quarta-feira, 9 de abril de 2008

Fito: o descascador de abacaxis

Marcos Pastich/Arquivo Folha
Rosembrick cumpriu suspensão e está de volta ao time
GUSTAVO LUCCHESI

Já conquistando a fama de “maior descascador de abacaxis” do Estado, o treinador coral, Fito Neves, como já vem sendo de praxe, terá que fazer jus ao título diante dos vários problemas que tem para escalar a equipe que enfrenta o Vera Cruz, domingo, no Arruda. Mesmo com a tranqüilidade de já ter jogado fora qualquer possibilidade de rebaixamento para a Série A2, quatro atletas cumprem suspensão automática e desfalcam a equipe. Sem poder contar com os laterais-esquerdos Chiquinho e Alexandre Aguiar, o volante Leandro Biton e o artilheiro coral na temporada 2008, o atacante Thiago Capixaba, com seis gols em cinco jogos, todos suspensos, Fito poderá ter mais algumas baixas.

O capitão tricolor, Alexandre Oliveira, com sintomas de gripe, foi poupado dos treinamentos de ontem, assim como o atacante Thomas Anderson e o jovem goleiro Jaílson, com dores no adutor da coxa direita, que não subiram ao gramado e começam a preocupar. Para a delicada missão de substituir Thiago Capixaba, Fito já definiu o prata-da-casa Gilberto como encarregado de não deixar a torcida coral morrer de saudades do seu novo ídolo.

Mas como nem só de más notícias sobrevive um treinador, o tricolor irá contar com o retorno do zagueiro Marcelo Heleno e o meia Rosembrick, que cumpriram suspensão.

APOIO
Em reunião realizada ontem à noite, na sede do Santa Cruz, o grupo de trabalho tricolor, formado por atuais e ex-dirigentes, assistiu a uma demonstração do atual presidente, Édson Nogueira, sobre a situação dos nove departamentos do clube e prometeram se unir para ajudar o mandatário. Uma nova reunião, ainda sem data definida, será definida para que os novos planos sejam traçados.

Dois anos de sofrimento coral
No dia 9 de abril de 2006, Santa perdia o Estadual e iniciava uma triste trajetória
Kauê Diniz

Há exatamente dois anos, o Santa Cruz começava a escrever uma das piores páginas da sua história. Naquele 9 de abril de 2006, rubro-negros e tricolores decidiam, na Ilha do Retiro, o título estadual. A conquista estava nos pés de Lecheva. Porém, quis o destino que ali fosse o marco inicial de toda uma trajetória tortuosa para os tricolores. O goleiro Gustavo, do Sport, pegou o pênalti cobrado pelo jogador, e, nas cobranças alternadas, o volante Neto desperdiçou novamente pelo lado coral. Decretou-se, naquele momento, o fim de um período de vitórias e bastante próspero para o torcedor tricolor, que ainda curtia o acesso à elite do futebol brasileiro, após quatro anos seguidos na Segunda Divisão. Após esse episódio fatídico, o Santa Cruz passou a contrariar o próprio hino. Juntou várias derrotas, resultando na sucessiva queda da Série A para a Série B e da Série B para a Série C. Quando o Arruda parecia ter se tornado o fundo do poço, ainda veio a ameaça de rebaixamento à Série A2 do Estadual para alimentar esse pesadelo, por enquanto sem fim.

Os números corais, nesses dois anos, por si só já dão dimensão do furacão no qual o Santa Cruz entrou e vem devastando sua tradição. Em 117 partidas disputadas, nesse período, o time conquistou 123 pontos, oriundos de 30 vitórias e 33 empates. Ao todo, foram 54 derrotas, ou seja, os corais perderam em quase metade dos duelos. No final das contas, houve um aproveitamento irrisório de 35,04%. Os jogadores tricolores marcaram 150 gols, em compensação, sofreram 208.

O principal responsável por esse déficit em seus números foi o Brasileiro de 2006. Excetuando a Copa do Brasil, que nos últimos dois anos o Santa Cruz terminou eliminado logo na primeira fase, a pior campanha apresentada pelos tricolores aconteceu mesmo na Série A. Para se ter uma idéia do estrago, em 38 jogos, o clube pontuou somente em 14 (sete vitórias e sete empates).

Dos seis campeonatos disputados pelo Santa Cruz, desde o dia 9 de abril de 2006, apenas no atual Estadual o Tricolor conseguiu ter mais vitórias do que derrotas. No entanto, nesta temporada, a situação coral se assemelhava à das competições anteriores, porém os números melhoraram depois de o clube entrar no Hexagonal da Morte, fazendo com que a quantidade de vitórias ultrapassassem à de derrotas.

Política
Nesse período, coincidentemente ou não, o clube viveu um tumultuado processo político. Acusando Romerito Jatobá, presidente coral na gestão 2005-06, de centralizador, Edson Nogueira (Edinho), o seu vice, preferiu se afastar do Santa, alegando falta de diálogo com o antigo aliado. Entre farpas de ambos os lados, Edinho, como oposicionista, ganhou a eleição para Alberto Lisboa, candidato apoiado por Romerito.

Eleito como o presidente aclamado pela massa coral, para comandar o clube no biênio 2007-08, Edinho não conseguiu, dentro de campo, modificar os resultados inexpressivos da equipe. Logo no Pernambucano de estréia, amargou uma seqüência de sete jogos sem ganhar e a sexta colocação. A decepção foi pior com o time sendo rebaixado para a Terceira Divisão do futebol nacional e, este ano, conseguiu registrar o maior jejum de vitórias da sua história no Estadual: dez jogos. Resultado, terminou indo disputar o Hexagonal da Morte, válido para definir os rebaixados à Série A2 do certame.

Durante o período, 137 atletas entraram em campo

Contra números não há argumentos, sobretudo quando são tão impiedosos quanto os apresentados pelo Santa Cruz nesses últimos dois anos. Enquanto a cartilha do futebol organizado e de sucesso prega a manutenção de uma base, para se chegar às vitórias, o Tricolor implementou uma tática oposta, na qual fugia daquela máxima: “o bom é a qualidade e não a quantidade”. Do dia 9 de abril para cá, 137 jogadores entraram em campo para vestir a camisa coral em uma partida oficial.

Tão absurdo quanto esse número é a elevada quantidade de atletas que chegaram a disputar somente 10% dos jogos corais nesse período, ou seja, em 117 duelos ao todo, estiveram presentes no máximo em 11 deles. Dos 137 atletas, 79 se enquadram nesse perfil.
Os piores números do Tricolor nesse quesito estão no Brasileirão de 2006. Naquela temporada, a rotatividade de jogadores foi mais gritante. Cinqüenta e quatro atletas entraram em campo, no entanto, somente 20 deles participaram de mais de um quarto dos jogos, ou seja, dez no mínimo. Isso retratou bem uma equipe que só pôde repetir a mesma escalação duas únicas vezes, na seqüência dos confrontos contra Goiás, Fortaleza e Flamengo.

Na Série B de 2007, a quantidade de jogadores utilizados reduziu-se a 45. Vinte e um destes não chegaram a jogar um quarto dos confrontos (dez jogos). Já no Estadual do ano passado, 40 atletas atuaram pelo Santa Cruz, porém, apenas seis conseguiram entrar em campo mais da metade dos duelos.

Esses números também indicam passagens bastante efêmeras como as de Mauricio, Reginaldo Silva, Robinho e Oliveira. Esses anônimos são alguns dos atletas com apenas uma única partida disputada pelo clube.

Aliás, são raros os casos de jogadores que estiveram no elenco coral durante os últimos dois anos. O lateral-esquerdo Max e o atacante Thiago Almeida - deixou o clube no princípio da temporada, após alguns jogos - aparecem como exceções.

Oito treinadores passaram pelo clube

Como geralmente os dirigentes costumam pregar, técnico de futebol só se sustenta no cargo com vitórias. E como ganhar não foi o resultado preferido do Santa Cruz nesses dois anos, vários treinadores terminaram passando pelo Arruda. Nomes, até então, inquestionáveis pela torcida, como o de Givanildo Oliveira, responsável por levar o clube de volta à Primeira Divisão, não resistiram à pressão ocasionada pelas sucessivas derrotas.

Desde o dia 9 de abril de 2006, o Santa Cruz trocou de técnico oito vezes. Treinador que comandou o Tricolor na final do Estadual daquela temporada, Giba só resistiu a mais quatro jogos após aquela decisão. Em seu lugar assumiu Valdir Espinosa. O gaúcho se manteve no cargo por apenas seis rodadas da Série A. O sucessor dele, Mauricio Simões agüentou outros 12 confrontos.

Quem comandou os corais na reta final do Brasileirão foi Fito Neves, coincidentemente, o atual treinador do clube. Somando suas duas passagens pelo Arruda, ele se tornou, durante esse período, o técnico que mais comandou o Santa Cruz: 26 vezes.

Outros dois técnicos chegaram próximo. Charles Muniz, juntando as épocas de interinidade e de treinador efetivado, passou 20 jogos no cargo, enquanto Mauro Fernandes permaneceu 22 rodadas à frente do Tricolor na Série B 2007.

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