sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Bagé não quer pipoqueiros

Marcos Pastich/Arquivo Folha


Treinador coral não vai tolerar jogadores tremendo na hora da decisão
GUSTAVO LUCCHESI

“Quem não agüentar a pressão e quiser tranqüilidade que vá para o mato descansar e cortar lenha”. Foi com essa frase que o treinador do Santa Cruz, Ronaldo Bagé, respondeu ao ser questionado sobre até que ponto as cobranças da torcida e da imprensa poderiam atrapalhar o time no momento da “decisão” contra o Campinense/PB, domingo, no Arruda. Mostrando-se bastante confiante e esperançoso nas combinações que o Tricolor precisa para conseguir a classificação para a Terceira Fase e continuar vivo no Brasileirão da Série C, o comandante coral deixou bem claro que não vai tolerar jogador tremendo na hora H ou se escondendo do jogo.

Tendo ganho de bandeja a semana inteira para trabalhar, devido à paralisação nos Grupos 20 e 24 da competição, Bagé aproveitou para tentar corrigir as diversas falhas, e ontem, no treino coletivo, resolveu distribuir o seu cardápio de “esporros” aos atletas, principalmente com os setores de marcação e de ataque, que não balança as redes há três jogos. Porém, mesmo com tanto trabalho, o técnico ainda não definiu o time titular para o confronto diante da Raposa do Nordeste.

Na primeira metade das atividades de ontem, a equipe principal entrou em campo no esquema 3-6-1, com a seguinte formação: Glédson; Rafael Mineiro, Gonçalves e Stanley; Marcos Vinícius, Vágner Rosa, Alexandre Oliveira, Juninho, Rosembrick e Jéfferson; Edmundo. Porém, como não sabe se poderá contar com Jéfferson, ainda tentando conseguir um final feliz para a novela da sua regularização na CBF, Bagé resolveu colocar o atacante Thomas Anderson na segunda metade do treino, deslocando Juninho para a ala e passando a atuar no 4-4-2.

CONCENTRAÇÃO

Buscando tranqüilidade para concentrar, o elenco coral se desloca até um hotel de Maria Farinha, após o treino de hoje à tarde, onde fica concentrado até horas antes da partida diante do Campinense, que terá o mineiro André Martins como árbitro, assistido pelos potiguares Ubiratan Viana e Luis Carlos Bezerra.

Pressão faz Bagé perder a paciência em treino


O time do Santa Cruz está no limite. Não pode sequer empatar no domingo, contra o Campinense-PB, em casa, pela penúltima rodada do Grupo 19 da segunda fase, que perde qualquer possibilidade de chegar ao próximo quadrangular da Série C do Campeonato Brasileiro. Diante da pressão por resultados importantes, ontem, quem também chegou ao limite foi o técnico Ronaldo Bagé. Perdeu a paciência várias vezes durante o treinamento tático no Arruda e endureceu o tom de voz com algumas jogadas erradas, sobretudo a ineficiência nas finalizações. O time não marca há três rodadas e não vence uma partida desde 20 de julho.

Em um mês, foram quatro empates e duas derrotas. A última vitória foi por 2x0 contra o Potiguar de Mossoró-RN, no Arruda, pela quarta rodada do Grupo 5 da primeira fase da Terceira Divisão. “A partir de agora, ou o jogador presta atenção no que está fazendo, ou não trabalha mais comigo. A torcida pressiona a diretoria, a direção vem em cima de mim, e eu sem dúvida vou cobrar dos jogadores. Quem não quer pressão, vai trabalhar no meio do mato, cortando cana. Lá, não aparece ninguém. Só o dono das terras para saber como andam as coisas”, declarou o treinador tricolor, Ronaldo Bagé.

As “broncas” foram mais fortes com os componentes do meio-de-campo e do ataque. “Tem que fazer o gol quando chegar. No jogo, vocês vão na frente umas dez vezes e não conseguem fazer o gol. Os caras vêm uma vez, fazem o gol e ganham a partida”, esbravejou o comandante em um dos momentos do treinamento. Anteontem, Bagé disse que o time já estaria classificado se concluísse com competência todas as chances construídas. “Há momentos em que os atletas não entendem quando falamos mais calmos. Temos que mudar o tom de voz mesmo. Desclassificar o Santa Cruz é uma queda muito grande”, explicou o treinador, que está trabalhando no Arruda há pouco mais de um mês.

Após a derrota por 1x0 para o Icasa-CE, domingo passado, no Estádio Romeirão, em Juazeiro do Norte, pela terceira rodada deste quadrangular, o treinador já havia se queixado do rendimento de alguns atletas, mas não citou nomes. “Às vezes, não sei o que está acontecendo. Treinamos tudo certinho durante a semana, jogadas e posicionamento. Mas, na hora do jogo, parece que dá um branco”. A mão que bate é a mesma que afaga. “Esses meninos que estão trabalhando aqui são guerreiros. Todos têm vontade de acertar e estão correndo demais, se dedicando ao máximo nos treinamentos realizados”, elogiou o comandante coral.

Ronaldo Bagé também mostrou preocupação com a qualidade do próximo adversário. “Os dois melhores meias do nosso grupo estão no Campinense-PB. São Washington e Élvis. Eles jogam com uma linha de quatro atrás, dois volantes, dois meias e dois atacantes. Estão com o mesmo treinador (Freitas Nascimento) desde o Campeonato Paraibano e não vão mudar a forma de jogar nessa partida. Os meus jogadores estão bem orientados sobre como devem fazer a marcação. Claro que alguns contra-ataques vamos sofrer. Mas não podemos nos dar o luxo de esperá-los no nosso campo.”

ADVERSÁRIO

Uma boa notícia para o Santa Cruz diz respeito justamente ao setor de criação do Campinense-PB. O meia Élvis recebeu o terceiro cartão amarelo na vitória por 1x0 diante do Salgueiro, domingo passado, no Estádio Ernani Sátyro (O Amigão), e terá de cumprir a suspensão automática. Outro que não deve ser relacionado para a viagem ao Recife é o lateral-direito Fábio, entregue ao departamento médico dos rubro-negros. O zagueiro Maurício Gaúcho está na mesma situação do companheiro de clube. Com dois empates e uma vitória, a Raposa ocupa no momento a terceira colocação do Grupo 19. Uma vitória elástica pode deixá-la até na liderança da chave.

Otimismo pela condição de Jefferson

Mais uma vez, a regularização do meia Jefferson para estrear com a camisa do Santa Cruz ficou para o último dia. Até o fechamento do expediente de ontem da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), às 19h, o nome do armador não havia sido publicado no Boletim Informativo Diário (BID). Dessa vez, entretanto, os dirigentes tricolores estão esperançosos e acreditam que finalmente o reforço ficará à disposição do técnico Ronaldo Bagé. Se estiver apto, ele ganhará a condição de titular.

Jefferson desembarcou antes do início da segunda fase da Série C do Brasileiro. Um documento de transferência da Federação Paraguaia de Futebol, porém, vem causando transtornos. Ontem, o clube enviou um representante à entidade do país vizinho para solucionar de vez o impasse. No Paraguai, o meia mantém vínculo com o desconhecido Club General Caballero. “Essa documentação já está na CBF. Não devemos ter mais problemas para regularizá-lo”, disse o superintendente tricolor, Luís Cláudio.

A idéia do treinador é utilizá-lo na ala esquerda. Ele ocupará a vaga deixada por Camilo, que não está no condicionamento físico ideal. Jefferson fez a mesma função no último clube em que trabalhou com Bagé, no São José-RS, em 2007. Na segunda metade do coletivo de ontem, o atleta cedeu lugar ao atacante Thomas Anderson. “Estou sentindo algumas dores, mas isso não será problema”, declarou Jefferson.

Bagé exagera nas cobranças no Santa


Os trabalhos no Santa Cruz estão sendo realizados no limite. A pressão está por todos os lados e isso fica bem nítido nos treinamentos. Ontem, o técnico Bagé cobrou mais do que o normal dos seus jogadores. Distribuiu broncas para todos ouvirem durante o curto coletivo realizado à tarde., no Arruda. Ao final foi enfático em justificar a maneira como conduziu o treino. "Dentro do futebol a cobrança é grande mesmo. A responsabilidade de trabalhar no Santa Cruz é maior ainda. A diretoria cobra de mim e eu cobro mesmo dos jogadores", desabafou.

Para o treinador, a equipe coral está pecando nos detalhes. Por isso, a cobrança em mais atenção de todos os jogadores. "Não temos mais gordura para queimar. Agora ou o atleta joga e se empenha ou não vai mais nem treinar comigo. Não podemos errar mais. Esses dois últimos jogos serão para quem está mostrando coragem", completou.

Dentro deste pensamento e também no que dispõe no elenco, Bagé voltou a fazer algumas mudanças na equipe. O esquema com três zagueiros deve ser mantido com Gonçalves, Stanley e Rafael Mineiro improvisado no setor. Duas novidades nas alas: pela direita, Marcos Vinícius, enquanto que Jefferson, mesmo ainda não regularizado, atuou pelo lado esquerdo. Por sinal, Jefferson marcou um belo gol no treinamento.

Alexandre Oliveira e Vágner Rosa serão os volantes com Juninho e Rosembrick na armação e Edmundo no ataque. Na segunda parte do treino, Jefferson foi sacado e Thomas Anderson entrou para jogar ao lado de Edmundo. Assim, Juninho e Rosembrick se revezaram como falsos alas esquerdos. Hoje, Bagé deve comandar o coletivo apronto para o jogo com o Campinense, domingo, às 16h, no Arruda. Mais novidades podem surgir.