quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Bezerra recebe apoio de desembargadores
Os desembargadores do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), Bartolomeu Bueno, Eloy d’Almeida Lins e Eduardo Paurá Peres, se colocaram à disposição para ajudar na nova gestão
O secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado e futuro presidente do Santa Cruz, Fernando Bezerra Coelho, continua articulando tricolores de diversas camadas da sociedade pernambucana no intuito de convidá-los para participar do movimento que tenta soerguer o clube, hoje afundado em dívidas e sem credibilidade após a eliminação na Série C do Brasileiro. Ontem, FBC recebeu o apoio do Judiciário. Três desembargadores do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), Bartolomeu Bueno, Eloy d’Almeida Lins e Eduardo Augusto Paurá Peres, se reuniram com Bezerra Coelho e se colocaram à disposição para trabalhar na nova gestão.
“Passamos para ele (Fernando Bezerra Coelho) que estamos dispostos a colaborar na nova gestão do clube, que precisa de muita renovação. Coloquei meu nome à disposição para compor a chapa, mas vou contribuir mesmo que não ocupe nenhum cargo”, disse Bartolomeu Bueno, vice-presidente do TJPE.
Sócio do Santa Cruz, o desembargador também saiu da reunião com a missão de “garimpar” outros juízes tricolores a se engajar na causa coral. “O presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Mozart Valadares, é tricolor. Tenho certeza que ele pode vir a ser mais uma força para este momento de crise”, afirmou Bueno.
Fernando Bezerra Coelho tinha agendadas mais duas reuniões ontem, mas os encontros com o vice-governador João Lyra e com o economista (especializado em marketing) Eduardo Mendonça não aconteceram. Como FBC viajou hoje para o Rio de Janeiro, onde vai participar de uma Feira de Petróleo e Gás, os compromissos serão remarcados.
A viagem ao Rio adiou para o final da semana a definição sobre o fechamento da chapa do Conselho Deliberativo. O órgão terá 250 membros em vez dos 420 atuais. Cada facção política tricolor indicou uma determinada quantidade de nomes, que se juntarão às indicações do próprio Fernando Bezerra Coelho na formulação da chapa do Conselho, que já tem 75 beneméritos. O senador Marco Maciel alegou falta de tempo e não aceitou o convite para encabeçar o órgão no biênio 2009/10.
Candidato único, Fernando Bezerra Coelho será aclamado no dia 30 de setembro e sua posse acontece em 7 de outubro. O prazo para inscrição da chapa expira na próxima segunda-feira (22) – o terceiro e último edital de convocação será publicado hoje. Nos bastidores, os nomes do secretário de transportes, Sebastião Oliveira, como do secretário-executivo da Fazenda, Roberto Arraes, surgem com muita força para ocupar cargos importantes na gestão de FBC, como o vice do Executivo e a própria presidência do Conselho Deliberativo.
VIRADA DE MESA
O assunto da possível permanência do Santa na Série C em 2009 ainda rende. Ontem, o presidente da Futebol Brasil Associados (FBA), José Neves, afirmou que, se for procurado, vai entrar na briga pela impugnação da Série D. Santa Cruz, Remo, Paulista e Ituano entendem que os critérios para a disputa da Série D não estão claros. A competição foi confirmada pela CBF com 40 clubes, com seu início previsto para 5 de julho de 2009.
Edmundo pode entrar na Justiça
O atacante Edmundo quebrou o silêncio e resolveu falar ontem, sobre a sua pendência com o Santa Cruz. Dispensado pela diretoria coral após a eliminação na Série C do Campeonato Brasileiro, ele não rescindiu seu contrato e está impossibilitado de jogar por qualquer outro clube. Segundo o jogador, o Nacional de Patos-PB demonstrou interesse em contar com seu futebol. O Santa deve dois meses de salário ao elenco profissional, dívida que gira em torno de R$ 300 mil e que será herdada pelo futuro presidente, Fernando Bezerra Coelho.
“Jomar Rocha (diretor de futebol do Santa) queria que eu assinasse a rescisão para depois colocar um aditivo. Como assinaria um documento sem saber o que vão acrescentar? É a primeira vez que isso acontece na minha carreira. Não posso ficar desempregado até dezembro e vou procurar meus direitos na Justiça”, disse o veterano atacante, de 38 anos, completando que o tricolor ainda ficou devendo uma premiação pela passagem para a segunda fase da Série C e alguns bichos.
De Patos, onde foi resolver problemas burocráticos sobre os empréstimos do goleiro Jaílson, do lateral Max e do meia Miller junto ao Nacional, Jomar Rocha deu a sua versão. “Infelizmente, o Santa Cruz não tem dinheiro para pagar aos jogadores. A maioria teve compreensão e vai negociar com a próxima gestão. Se Edmundo não quiser fazer o mesmo, o caminho será a Justiça mesmo”, explicou.
O (mau) futebol e o futuro
Walter Cabral de Moura
Este demorado e profundo baque do Santa Cruz deve servir para que algumas lições sejam extraídas, e bem assimiladas por todos os que pretenderem conduzir o processo de soerguimento do clube do Arruda:
Primeiro, está difícil fazer futebol profissional no Brasil – com a saída cada vez mais precoce de qualquer jogador um pouco melhor, com a Lei Pelé, e com os altos salários pagos a qualquer jogador apenas razoável (dos que antigamente eram chamados de “bonzinhos”), faltam dinheiro e bons jogadores. Termina-se tendo que contratar verdadeiros pernas-de-pau. Depois, haja demitir técnico que não consegue fazê-los jogar bem (também, pudera). Contratar por contratar, portanto, não parece ser boa política. Menos ainda, às vésperas do campeonato ou, pior ainda, com este já em andamento. Os contratos precisam ser bem feitos: de que adianta ser deixado na mão na hora de decidir um campeonato ou classificação?
Segundo, está mais difícil ainda fazer futebol profissional no Nordeste – com o açambarcamento do mercado, em proporções jamais vistas em outros ramos de atividade econômica, pela emissora de televisão que detém o virtual monopólio das transmissões e pela entidade pra lá de duvidosa denominada “Clube dos Treze”, que passou a decidir quem vai sobreviver, mesmo que de forma medíocre, ou quem estará condenado à penúria financeira e, no limite, ao fechamento das portas, com a extinção do CND – Conselho Nacional de Desportos, que existiu antes de ser criado um Ministério dos Esportes – e a omissão do Cade – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, vinculado ao Ministério da Justiça – entidades que poderiam impor pelo menos limites ao descalabro econômico e moral do segmento, assiste-se à progressiva extinção do futebol profissional, estrito senso, na maioria das cidades nordestinas, e também do Norte e Centro-Oeste, onde o futebol retorna ou já retornou a um estágio de semi-amadorismo, vigente já na década de trinta do século passado, de atividade sazonal e mal-remunerada, situação aliás conveniente aos clubes-membros dessa organização, que dispõem de mão-de-obra barata, ainda que pouco qualificada, e à televisão, que ganha mais consumidores de seu produto futebol, à medida em que se tornam cada vez mais inexpressivos os clubes locais.
O Recife, com um clube fazendo parte dessa associação de “donos” do futebol profissional, e Salvador, com dois, ainda apresentam alguma resistência, mas o futuro, inclusive das Federações estaduais, não é nada animador. Em nosso Estado, à parte a tradição aguerrida, rebelde e de resistência de nossa gente, o Campeonato Pernambucano estaria virtualmente inviável se não fosse o subsídio do governo estadual aos clubes, por meio do programa Todos com a Nota.
Terceiro, está impossível fazer futebol profissional sem competência administrativa – pelos motivos expostos acima e pelo acúmulo, no passado mais ou menos recente, de erros, dívidas, débitos, enfim de passivos de toda ordem. Como nunca antes, vale demais agora o antigo ditado: “quem não tiver competência que não se estabeleça”, ou em sua versão mais brejeira e nordestina, “quem não pode com o pote, não pegue na rodilha”. Louco, insensato, irresponsável e quase criminoso – pelo menos no sentido moral – será quem pretender presidir um clube de grande torcida, sem reunir as características administrativas que lhe permitam superar a maior parte das dificuldades e montar um time pelo menos competitivo. Em bom português, quem não tiver como atrair aportes financeiros e agregar os colaboradores e aficionados, históricos ou novos, em torno de um projeto de recuperação e engrandecimento do clube, deve ficar longe de pretensões de dirigi-lo.
Isto posto, a torcida apela (peço aqui licença para falar em nome dela), com veemência, ao futuro presidente do Santa Cruz que monte o melhor projeto de recuperação possível e reúna a maior capacidade de conseguir executá-lo.
Se isto acontecer, não tenho dúvida de que, em função de sucessivos acessos a começarem no próximo ano, poderemos comemorar o centenário do Santa, em 2014, no lugar que a ele pertence, por direito: consolidado entre os principais clubes do País, tendo superado um mau período.
No contrário, melhor nem pensar.
» Walter Cabral de Moura é sócio patrimonial, em dia, do Santa Cruz desde 1963.
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