terça-feira, 8 de julho de 2008

Torcida é a arma do Santa Cruz para encarar a Série C


Márcio Markman, especial para o Pelé.Net

O Santa Cruz vive a maior crise técnica da sua história. A equipe pernambucana acumulou de uma sequência de fracassos nas três últimas temporadas que a fez cair da elite do futebol brasileiro diretamente para o fundo do poço da Série C. No domingo passado, em Campina Grande/PB, o Tricolor do Recife estreou na terceira divisão do Campeonato Brasileiro com uma derrota por 2 a 1 para o Campinense. Mas, ao menos o que se viu nas arquibancadas, é que o clube continua com uma torcida de primeira.

E é essa força, que normalmente é considerado algo extra para o desempenho de uma equipe de futebol, que está sendo apontado como a maior arma do Santa Cruz para tentar voltar à Série B. Historicamente dona das melhores médias de público das competições nacionais, ao lado de torcidas de clubes como Flamengo, Corinthians, Grêmio, Atlético/MG, Sport, Bahia e Remo, a massa tricolor pode compensar a falta de qualidade do time e servir como diferencial para bater os adversários.

"Campina Grande nunca havia visto uma invasão de uma torcida como a de hoje. É realmente incrível", comentou o ambulante Raimundo Freitas, no local conhecido como Calçadão, no centro da cidade paraibana. A Polícia Militar do estado contabilizou cerca de 7 mil torcedores do Santa Cruz, que estiveram em maior número no estádio Amigão que a torcida do time da casa.

Foram cerca de 40 ônibus, o mesmo número de vans e dezenas de carros particulares que deixaram o Recife, carregando os fanáticos torcedores do clube pernambucano. Ainda na estrada entre o Recife e a cidade paraibana, a paisagem foi sendo colorida de "encarnado, branco e preto". Os postos de gasolina e lanchonetes de beira de estrada ganharam um movimento pouco visto para um domingo de julho, com os ônibus e vans barulhentos, cheios de torcedores.

O professor de Educação Física, Sérgio Torreão, foi um dos que juntou uma turma de amigos para acompanhar à estréia do Tricolor do Arruda in loco. Conseguiu mais onze amigos, alugou uma van por R$ 550,00 e a equipou devidamente com o "combustível" necessário para chegar ao Amigão disposto a encarar os 90 minutos de seca, imposta pela lei que proíbe a venda de bebidas alcoólicas nos estádios em competições organizadas pela CBF. Foram quatro litros de uísque, além de água mineral, água de coco e refrigerantes.

"Eu já acompanhei o Santa Cruz em outras oportunidades, mas dessa vez foram dois pontos marcantes. O primeiro foi o fato de poder juntar o pessoal em uma van e não precisar dirigir. Ter encontrado com as outras caravanas tricolores na estrada foi sensacional. O segundo ponto foi confirmar o que um amigo me falou. Que a torcida do Santa Cruz é maior do que a gente imagina", falou Serginho, como é mais conhecido.

Em Campina Grande, todos os bares e restaurantes das imediações do estádio e até mesmo alguns em locais mais distantes, como o Centro e a orla do açude velho foram tomados pelos torcedores pernambucanos, por volta do meio-dia. Na chegada ao estádio, a fila de torcedores tricolores chegando era bem parecida ao que se vê nos dias de jogos no Arruda.

"Essa torcida não existe. O time pode ser de terceira, mas a torcida é de primeira. Nunca se viu nada parecido com isso no futebol pernambucano. Os outros times podem estar vivendo um momento melhor do que o nosso, mas não possuem um patrimônio como o que o Santa Cruz tem, que é essa torcida fiel", afirmou o advogado Júlio Barros, que foi a Campina Grande em um dos ônibus.

Entre os jogadores, é consenso que a torcida será um fator fundamental para o time conseguir a almejada volta à Série B do Campeonato Brasileiro. "Nós nunca tivemos qualquer dúvida sobre a força da nossa torcida. Apesar de o time estar em uma fase ruim, eles nunca nos abandonaram. Tenho certeza que, com a ajuda dos tricolores, nós vamos colocar o Santa Cruz no lugar de onde ele nunca deveria ter saído", comentou o volante Alexandre Almeida, capitão da equipe e torcedor assumido do Tricolor do Arruda.

Briga

Apesar do clima de alegria da maioria, alguns torcedores do Santa Cruz quase estragaram a festa em Campina Grande. Integrantes da maior torcida organizada do clube, que costuma entrar em choque com as rivais do Sport e Náutico, repetiram os atos de selvageria e protagonizaram cenas lamentáveis. Antes de o jogo começar, os membros da Inferno Coral entraram em choque com torcedores do Campinense, que foram "reforçados" por integrantes da Torcida Jovem, do Sport. "Um amigo meu que é da Jovem veio do Recife de ônibus, com vários amigos, para se juntar à torcida do Campinense", garantiu uma torcedora do Santa Cruz, que não quis se identificar.

A confusão foi ainda maior dentro de campo. Perto do final do primeiro tempo, torcedores do Santa Cruz entraram em conflito com policiais militares, que tentaram apartar uma briga e foram agredidos. Ao final do jogo, mais confusão. Mais uma vez os membros da Inferno Coral brigaram com os torcedores do Campinense e fizeram com que a Polícia Militar tivesse que agir com rigor para coibir a violência. O saldo da confusão foram cerca de 15 torcedores presos e três feridos.

"É um absurdo. Isso é coisa de meia dúzia de marginais que vivem para brigar. Eles brigam no Recife, brigaram aqui e vão querer brigar aonde o Santa Cruz for jogar. É importante dizer que eles não representam a verdadeira torcida do Santa Cruz, que é tranqüila e vai a campo apenas para incentivar o time", falou o comerciante Rogério Freire.

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