domingo, 1 de fevereiro de 2009

Clássico para matar a saudade


Náutico e Santa voltam a se enfrentar após quase dois anos com vários ingredientes especiais que devem apimentar a rivalidade histórica

2 anos

Aquela tarde de domingo em 2007 ficaria marcada pela quebra de jejum do Náutico contra o Santa Cruz (com uma vitória por 2 x 1), que já durava quase três anos, traduzidos em sete derrotas e um empate. Mas o que ninguém poderia imaginar, ao deixar os Aflitos naquele 25 de março, é que a partir dali levaria quase dois anos para ver os dois times se enfrentando novamente. Depois disso, o Náutico disputou a Série A naquele ano, enquanto o Santa Cruz jogava a segunda divisão. No Estadual de 2008, o destemperado regulamento separou as duas equipes, que nem no segundo turno se enfrentaram. No Brasileiro, então, o abismo tornou-se ainda maior: os alvirrubros ainda na elite nacional, enquanto os tricolores jogavam a Série C. Foram 22 meses sem Clássico das Emoções, que devem finalmente chegar ao fim neste domingo.

Os times

Sem poder sequer empatar, Náutico e Santa Cruz devem adotar posturas ofensivas nesta tarde. O primeiro abandona o esquema com três zagueiros. Vágner e Galiardo serão a dupla de zaga. Na lateral-direita, pela primeira vez um especialista: Carlinhos ou Ângelo. O meio-campo será formado pelos volantes Nunes e Johnny e por dois meias. Juliano, Dinda e David disputam a posição. O ataque deve ser com Carlinhos Bala e Anderson Lessa. No Santa Cruz, a tendência é de manter o esquema 3-5-2, que foi usado contra a Cabense. Caso opte pela volta ao 4-4-2, o técnico Márcio Bittencourt deve segurar o meia William no time titular, para a saída do zagueiro Leandro Camilo. O meia Leandro Gobatto cumpriu suspensão e reassume seu lugar.

Vida ou morte

Náutico e Santa Cruz fazem um clássico de vida ou morte. Para os alvirrubros é a última chance de continuar vivo na competição e ainda sonhando em brigar pelo título do primeiro turno. Com 12 pontos, na 4ª posição na tabela, o Timbu está em uma situação delicada e precisa vencer para não ver o principal rival, o Sport disparar ainda mais na liderança. Já os tricolores estão um pouco mais folgados, mas não menos tranquilo. O Santa soma 15 pontos e ocupa o 2º lugar na classificação. Uma vitória neste domingo deixará vivo e dentro da briga com os rubro-negros. Um empate seria péssimo para os dois clubes, que, praticamente, morreriam abraçados. As chances de chegarem ao título do primeiro turno ficaram restritas. Por isso, a tendência é de um jogo bastante disputado.

Provocaçoes

Se para o Santa perder o clássico deste domingo trará um impacto na tabela, mas não chegará a ser o fim do mundo. Afinal, o Tricolor corre por fora neste estadual. Começou, literalmente, do zero formou uma equipe completamente nova e o seu objetivo mesmo na competição é buscar uma vaga na Série D. Porém, para os alvirrubros, a vitória do Santa seria uma desastre. As provocações não iriam parar até o próximo clássico, no Arruda, no segundo turno. Já imaginou um clube de Série A perdendo para outro que nem divisão tem ainda? As brincadeiras vão tomar conta das ruas e as piadas se multiplicarão. Além de toda a mística que envolve a partida desta tarde, o clima de rivalidade vai diminuir a distância, pelo menos no Brasileiro, entre alvirrubros e tricolores. É bom as torcidas começarem a encontrar desculpas para as piadas.

Náutico

Eduardo; Carlinhos (Ângelo), Vágner, Galiardo e Anderson Santana; Nunes, Johnny, Juliano e Dinda (David ou Derley); Carlinhos Bala e Anderson Lessa (Gilmar). Técnico: Roberto Fernandes

Santa Cruz

André Zuba; Thiago Matias, Sandro e Leandro Camilo (William); Parral, Bilica, Wágner, Leandro Gobatto e Adílson; Marcelo Ramos e Márcio Barros. Técnico: Márcio Bittencourt

Local: Aflitos. Horário: 16h. Árbitro: Wilson Souza. Assistentes: Jossemmar Diniz e Pedro Wanderley. Ingressos: R$ 40 (arquibancada); R$ 20 (dependentes de sócios e estudantes).

Sem espaço para ressentimentos
Ele era o grande ídolo do Santa Cruz, em 2007. Tinha conquistado a artilharia do Pernambucano com 15 gols, e já despontava como principal goleador do Brasileiro da Série B, com 10 gols em 17 jogos. Porém, o assédio do Atlético-PR acabou levando Marcelo Ramos do Arruda. Mas o sonho do atacante em voltar a ser ídolo em um clube de Série A acabou sendo frustrado pouco mais de seis meses depois. Seu rendimento caiu e a diretoria do clube acabou rescindindo seu contrato. Curiosamente, o treinador do Atlético-PR na época era Roberto Fernandes. E muito se falou que Fernandes teria sido o responsável pela saída de Marcelo Ramos.

Neste domingo, os dois estarão frente a frente no clássico entre Náutico e Santa Cruz, nos Aflitos. Sem ressentimentos, Marcelo Ramos desmistificou toda esta história mal contada. "O que aconteceu lá no Atlético foram os resultados que não vieram. O próprio Roberto veio falar comigo e disse que a minha saída era uma opção da diretoria do clube. E eu acreditei nele. E se fosse uma decisão dele também não tinha problema nenhum. Afinal, o treinador tem direito de escolher com quem ele quer trabalhar. Não tenho ressentimentos. Nossa relação sempre foi profissional e de muito respeito", disse artilheiro coral, que já balançou quatro vezes as redes neste Pernambucano.

Nos Aflitos, a mesma versão dada por Marcelo Ramos foi confirmada por Roberto Fernandes. "A responsabilidade pela saída dele (Ramos) do Atlético-PR foi toda de Petraglia (Mário Celso Petraglia, ex-presidente Executivo). Marcelo Ramos é um grande artilheiro e eu não tenho nada contra ele. Por mim, teria ficado lá", resumiu o treinador alvirrubro, sem querer polemizar.

O fato é que, na ocasião, o Furacão tinha interesse em trabalhar o garoto Pedro Oldoni, que vinha sendo uma revelação das categorias de base do clube. Os dirigentes do clube rubro-negro paranaense queriam Oldoni no time para negociá-lo em um futuro próximo. Assim, acabou sobrando para Marcelo Ramos.

Isso já é passado para o atacante coral. Hoje o objetivo dele é ajudar o Santa Cruz a vencer o clássico. Por sinal, Marcelo Ramos é uma espécie de algoz do Náutico. Nos dois últimos confontos com o Timbu, em 2007, o artilheiro tricolor marcou três gols. "Será uma partida difícil. Roberto Fernandes é um estrategista que estuda muito os adversários. Mas estamos bem preparados e em um bom momento. Espero ajudar o Santa a vencer e, de preferência, com um gol meu", completou, sorridente.

Paredão de um lado e do outro

Eduardo e André Zuba passam longe de coadjuvantes dos alvirrubros e tricolores e prometem ser obstáculos na vida dos atacantes neste domingo

Os atacantes, geralmente, são os principais destaques em apresentações para jogos importantes como este Clássico das Emoções. E não pode ser diferente. Afinal, o gol é o momento de êxtase do futebol. Mas os atacantes de Náutico e Santa Cruz terão uma dificuldade a mais no confronto deste domingo, nos Aflitos: os goleiros. Alvirrubros e tricolores contam, literalmente, com dois paredões. Com excelentes defesas na competição até o momento Eduardo e André Zuba, respectivamente, passam longe de coadjuvantes em suas equipes.

Os dois vivem momentos distintos em seus clubes. O experiente Eduardo já é ídolo no Náutico, apesar de ainda ter a resistência e desconfiança de alguns alvirrubros mais radicais. Porém, já salvou o Timbu várias vezes, principalmente, no Campeonato Brasileiro do ano passado. Sem dúvida foi um dos responsáveis direto pela permanência do Náutico na elite do futebol nacional.

Já André Zuba, 23 anos, ainda é garoto e vem buscando um lugar ao sol. Encontrou no Santa Cruz uma chance de jogar e crescer na profissão. Antes de ser contratado, o jogador era o terceiro goleiro do Palmeiras. Chegou com uma certa desconfiança dos torcedores, assim como todos os novos reforços da equipe, mas suas boas atuações acabaram o credenciando como titular. "Estou muito feliz em ter vindo jogar no Santa Cruz. Está sendo uma boa experiência. Acredito no planejamento do clube e espero continuar ajudando", disse o jovem goleiro.

Arrojo

As defesas arrojadas de Zuba mostraram sua qualidade logo na estreia diante do Sete de Setembro. Em todos os jogos, o goleiro defendeu, no mínimo, três ou quatro bolas de pagar ingresso. E agora no clássico? "A ansiedade é grande não só minha, mas de todos os companheiros por ser o primeiro clássico", afirmou entusiasmado. "Vivemos um bom momento na competição, porém, uma partida deste nível não tem favorito. Temos que ter muita atenção durante o jogo", avaliou.

Sobre seu arrojo em baixo da barra, Zuba foi enfático: "Trabalhamos muito forte aqui no Santa Cruz. Eu estou fazendo a minha parte, mas os méritos precisam ser divididos com todos no elenco e com a comissão técnica também", completou.

Eduardo, por sua vez, chegou ao Náutico há quase dois anos, mas terá sua primeira oportunidade de enfrentar o Santa Cruz. Clássicos pernambucanos ele já disputou cinco, mas todos contra o Sport. O atleta, uma liderança dentro do grupo desde sua primeira temporada no clube, espera que o jogo marque uma nova fase do Náutico na disputa do Campeonato Pernambucano. E cobra uma nova postura de sua equipe.

"Com certeza o título do primeiro turno ficou difícil. Não tanto pela matemática, mas pela forma como estamos jogando, sem vontade de vencer. Precisamos mudar isso, porque qualquer resultado que não seja a vitória contra o Santa Cruz não nos interessa", afirmou Eduardo, de 31 anos, que aponta o fato de não ter mantido uma base no grupo do ano passado como o principal obstáculo neste início de campeonato. "Por causa disso, precisamos treinar, além do físico, a parte técnica e tática do grupo. Estamos procurando evoluir agora", acrescentou o goleiro.

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