domingo, 1 de fevereiro de 2009

Valeu a pena esperar tanto


Desde o dia 25 de março de 2007 que Náutico e Santa Cruz não se enfrentam graças ao regulamento do Estadual 2008 e à má campanha coral na competição. Mas hoje a espera acaba. Às 16h, nos Aflitos, começa o 373º Clássicos das Emoções em campeonatos pernambucanos. O tempero é dos mais apimentados. Ambos querem a vitória para manter viva a esperança de conquistar o primeiro turno. Vice-líder, o Santa Cruz precisa vencer o seu quinto jogo consecutivo para não deixar o Sport correr ainda mais solto rumo à primeira vaga na final. No Náutico é mais delicado. Quarto colocado, o alvirrubro nem pode sonhar com a derrota. Perder é praticamente dar adeus ao turno. Por isso, o Náutico deve ser mais ofensivo, enquanto o Santa vai esperar para tentar o contra-ataque.

Após tanto tempo, um duelo daqueles

Há quase dois anos sem se enfrentar, Náutico e Santa Cruz fazem hoje mais um clássico, onde perder pode significar o adeus à conquista do turno, principalmente para os alvirrubros

João de Andrade Neto
jneto@jc.com.br
Rafael Carvalheira
rvieira@jc.com.br


Foram 678 dias de espera. Um total de 16.292 horas de saudade. Desde que o árbitro Patrício Souza apitou o fim de Náutico 2x1 Santa Cruz, no dia 25 de março de 2007, alvirrubros e tricolores se distanciaram. Hiato provocado pelo regulamento do Estadual do ano passado – e a má campanha coral –, que não permitiu o encontro dos dois eternos rivais em 2008. Espera que chegará ao fim hoje, às 16h, nos Aflitos, quando Wilson Souza apitar o início do 373º Clássicos das Emoções em Campeonatos Pernambucanos. Um jogo repleto de histórias, polêmicas, festa, choro e que hoje, como muitos outros, terá o aspecto de decisão para as duas equipes.

Se quiserem ainda sonhar com a conquista do primeiro turno, uma vitória é essencial para os dois lados. Na vice-liderança, com 15 pontos, o Santa Cruz precisa do quinto triunfo consecutivo para seguir na cola do Sport. Desde 2006, o tricolor não tinha uma sequência tão longa de resultados positivos. No Náutico, a situação é mais complicada. Na quarta posição, com 12 pontos, um novo tropeço pode significar o fim da linha na luta pela primeira vaga na final. Curiosamente, o Timbu segue invicto na competição, com três vitórias e três empates.

O técnico Roberto Fernandes deve mandar a campo a formação mais ofensiva do Náutico nesse início de temporada, com dois meias ofensivos e dois atacantes. Além disso, com a estreia do lateral-direito Carlinhos, o treinador alvirrubro não precisará fazer improvisações. A novidade na equipe será a presença do jovem meia Dinda, 19 anos.

No setor de contenção, os volantes Johnny e Nunes retornam à equipe após cumprir suspensão. Com isso, Derley e Gilmar, que já atuou como ala-direito, meia e atacante, devem ficar como opção para o segundo tempo. “Esse jogo é de vida ou morte. Se não vencermos, podemos esquecer o turno”, decretou Johnny.

Do lado tricolor, a aposta é na volta do meia Leandro Gobatto, expulso na sua estreia e fora da vitória por 1x0 sobre a Cabense, quarta-feira passada, no Cabo de Santo Agostinho. O jogador leva sobre as costas toda a esperança de criatividade. O esquema, porém, será defensivo. Pela segunda partida consecutiva, os corais entram com três zagueiros e dois volantes.

A proposta do técnico Márcio Bittencourt será, provavelmente, esperar o Náutico no campo de defesa e tentar matar o confronto nos contra-ataques. A confiança no poder de decisão do artilheiro Marcelo Ramos tem dado certo. Afinal, o atacante não tem desperdiçado as poucas oportunidades que aparecem.

HISTÓRIA

Náutico e Santa fazem o clássico mais equilibrado em Pernambuco. Em 372 jogos, são 144 vitórias tricolores, contra 127 alvirrubras e 101 empates, uma diferença de 17 triunfos a favor dos corais. Mas em jogos nos Aflitos, o Timbu leva vantagem contra o Santa. Em 145 clássicos, são 56 vitórias do Náutico, contra 46 do Santa e 43 empates.

A primeira vez dos técnicos

O Clássico das Emoções desta tarde será o primeiro de vários alvirrubros e tricolores. Entre eles, os dois treinadores. Como o Santa Cruz ficou impossibilitado de enfrentar o Náutico no ano passado, o técnico Roberto Fernandes, no comando do alvirrubro desde o Brasileiro de 2007, terá a Cobra Coral pela primeira vez como adversário. Já Márcio Bittencourt, que pela primeira vez dirige uma equipe pernambucana, debutará em clássicos no Estado.

“Já enfrentei o Santa Cruz quando trabalhava em outros times, mas um clássico sempre tem um peso diferente. A presença das duas torcidas no estádio acende a partida. Lógico que a gente sente falta. No ano passado, sem querer tirar os méritos do título do Sport, é como se faltasse a cereja no bolo, sem os clássicos contra o Santa”, afirmou Roberto Fernandes. “Clássico é detalhe, ganha quem errar menos e é preciso atenção o tempo inteiro, aquilo que todo mundo já sabe”, comentou o comandante coral.

Até o momento, Márcio Bittencourt vem mantendo uma boa média de 83,3% de aproveitamento à frente do Santa. São cinco vitórias em seis rodadas. O único “acidente de percurso” foi a goleada por 4x0 sofrida na segunda rodada, no Luiz Lacerda, em Caruaru. Ainda em processo de montagem da equipe, o treinador vem priorizando uma marcação forte.

Já Roberto Fernandes fez sua primeira partida como técnico do Náutico no dia 3 de julho de 2007, com um empate por 1x1 contra o Atlético-PR. De lá para cá, acumula em 86 jogos, 43 vitórias, 19 empates e 24 derrotas, entre dois Brasileiros, uma Copa do Brasil e dois Estaduais. Um aproveitamento de 57,3%.

Os dois treinadores, por sinal, começam a construir uma amizade fora de campo. Roberto Fernandes, inclusive, vem sendo uma espécie de “guia” para Márcio Bittencourt, ainda novato no Recife. “Desde quando desembarquei no Recife, tenho conversado muito com Roberto Fernandes. É uma pessoa que me recebeu bem e que considero um excelente profissional”, revela Bittencourt.

O momento do Santa Cruz é superior, tanto na classificação quanto na etapa de montagem da equipe. Ninguém no Arruda, porém, quer assumir favoritismo. “Assim como o Sport, o Náutico já vem de uma grande estrutura. Está na Primeira Divisão desde 2007. Nós pegamos o Santa Cruz praticamente do zero. Estamos lutando e vamos continuar lutando muito para chegar lá. Não adianta falar muito. Vamos seguir trabalhando e buscando a evolução no decorrer da competição”, finalizou Bittencourt.

“O nosso maior problema foi com relação à apresentação dos atletas. Tanto que só agora, na 6ª rodada, poderei escalar a equipe sem precisar fazer uma improvisação. Este clássico decide muita coisa. O Santa Cruz, apesar de ser vice-líder sabe que não pode perder, sob o risco de ficar para trás. Já nós não podemos nem pensar em empate. Será um jogo de equipes que ainda buscam a sua melhor formação”, enfatizou Fernandes.

Bala quer reduzir déficit

Quando defendia o Santa, Carlinhos Bala marcou 12 gols contra o Náutico. Agora tem chance de diminuir saldo devedor com torcida timbu

Quando vestia a camisa do Santa Cruz, o atacante Carlinhos Bala costumava infernizar a vida dos alvirrubros. Foram 12 gols marcados pelo tricolor contra o Náutico, sendo o 4º maior goleador coral no Clássico das Emoções, empatado com os ex-jogadores Siduca e Lua. Hoje, o baixinho espera começar a diminuir o saldo devedor para os timbus.

“Será a primeira vez que vou jogar este clássico pelo Náutico e espero diminuir esse meu saldo com a torcida alvirrubra. Marquei apenas um gol contra o Santa, quando estava no Cruzeiro”, recordou um sorridente Carlinhos, mostrando-se totalmente adaptado à nova casa. “Desde que cheguei aqui fui muito bem recebido. Na minha apresentação, a torcida me aplaudiu”, recorda o jogador, que, inclusive já foi até capitão da equipe em alguns jogos.

Na nova casa, Bala jura ter amadurecido. Tanto que não promete uma comemoração especial, caso marque um gol contra o clube que o revelou. Nunca é demais lembrar que o jogador já se envolveu em algumas polêmicas, principalmente em clássicos, quando fez gestos obscenos para a torcida do Sport (defendia o Santa) e comemorou com o “chororô” uma vitória sobre o Náutico (vestia a camisa do Leão). “Se marcar vou comemorar com meus companheiros. A gente amadurece. Às vezes, você faz uma comemoração sem maldade e é incompreendido. Em outras, você faz uma coisa de cabeça quente e se arrepende.”

Uma coisa, porém, Carlinhos Bala não nega. Adora atuar em clássicos. “Esse é o tipo de partida em que o jogador aparece. A repercussão depois de um clássico é diferente. Você é cobrado na rua quando perde e recebe elogios quando ganha”, destaca.

Dentro do seu novo estilo de se esquivar de polêmicas, o atacante timbu, autor de dois gols no Estadual, nega uma disputa pessoal com o astro coral Marcelo Ramos. “Já enfrentei ele algumas vezes. Trata-se de um excelente jogador. Mas não há duelo particular. Cada um vai fazer o máximo para dar a vitória à sua equipe”, pontuou.

Até quando o discurso politicamente de Bala vai durar, só o tempo dirá. O jogo desta tarde será um bom termômetro. Ainda mais se falando de um clássico. Ainda mais se tratando de um clássico com Bala. “Adoro jogar clássicos”, reforça.

Marcelo Ramos, o novo algoz timbu

Costumeiramente, o artilheiro de uma grande equipe naturalmente se dá muito bem diante de alguns adversários e não tanto com outros. É o caso de Romário, por exemplo, carrasco do Botafogo. Marcelo Ramos, por sua vez, quando vê uma camisa vermelha e branca pela frente não costuma desperdiçar oportunidades. Na primeira passagem do matador pelo Arruda, em 2007, atuou em dois Clássicos das Emoções e balançou as redes três vezes, o bastante para deixar assustado qualquer goleiro do outro lado do campo.

O primeiro encontro aconteceu no dia 28 de janeiro daquela temporada, pela quinta rodada do primeiro turno do Campeonato Pernambucano, no Estádio do Arruda. O Santa Cruz fazia uma campanha mediana, com duas vitórias, um empate e uma derrota, e precisava da vitória para se manter com chances de ainda brigar pelo título da fase. Ela veio com dois gols de Marcelo Ramos. No dia 25 de março, nos Aflitos, pela quinta rodada do returno, deixou mais um na derrota por 2x1, na última vez em que os times duelaram.

O atacante participou de 17 dos 18 jogos realizados pelo Santa Cruz no Estadual de 2007. Além dos três gols contra o Náutico, ainda fez mais 12 gols, conquistando a artilharia da competição. O time terminou na sexta colocação. “O clássico é sempre um jogo diferente, sem favoritos. Temos que manter a atenção o tempo inteiro. E, apesar do peso de uma partida dessas, é muito gostoso participar. Todo jogador adora jogar um clássico, as torcidas também ficam ansiosas”, declarou.

Na edição atual do Pernambucano, já são quatro gols em seis jogos. “Respeitamos demais o Náutico, mas também sabemos que os jogadores do outro lado nos respeitam. Não significa que o nosso pensamento não seja de vitória. A gente entra fortalecido, porém sem essa de favoritismo. Tomara que seja um clássico disputado, duro, mas jogado na bola. Também pedimos festa nas arquibancadas, com muita paz dentro e fora do estádio”, pediu.

De acordo com dados divulgados pelo site oficial do clube (www.coralnet.com.br), Marcelo Ramos participou de 41 partidas oficiais pelos profissionais do Santa Cruz: 17 pelo Pernambucano de 2007, seis pelo Pernambucano atual, duas pela Copa do Brasil de 2007 e outras 16 pela Série B do Campeonato Brasileiro de 2007. São 30 gols marcados e uma média de 0,73. Ele esteve presente ainda em um amistoso, tendo balançado a rede duas vezes.

Torcedores revivem clima do clássico

Fernando Barros
fcosta@jc.com.br


Quase dois anos. Esse foi o tempo que os torcedores de Náutico e Santa Cruz ficaram sem presenciar as sensações que envolvem um Clássico das Emoções. No entanto, essa espera chega ao fim com o duelo desta tarde, decisivo para ambos os clubes na luta pelo turno. Do lado alvirrubro, qualquer resultado que não seja a vitória vai minar as chances de o Náutico conquistar a primeira metade da competição. Já para o Santa Cruz, uma vitória deixaria a equipe mais forte para o clássico com o líder Sport, no próximo domingo, dia 8, no Arruda.

Esconder a ansiedade parece uma tarefa difícil para as torcidas dos dois clubes. Os alvirrubros não aguentam mais esperar para vencer um clássico, já que o Náutico está há mais de um ano sem ganhar uma partida do tipo. No Santa, a torcida acredita que derrotando o Timbu, o time vai encontrar motivação extra para vencer os jogos restantes e arrancar rumo à conquista do turno.

Para o alvirrubro Caio Azuirson, jogar contra o tricolor só traz boas recordações à torcida timbu. “Enfrentar o Santa é sempre ótimo. Afinal, o Santinha só nos faz lembrar o excelente início de século que nós tivemos”, recordou o torcedor, referindo-se às conquistas dos Estaduais de 2001, 2002 e 2004, todas vencidas em cima do rival de hoje. Já o também alvirrubro Evêncio Vasconcelos, destacou a importância de ver novamente o tricolor disputar um clássico: “É bom ver o Santa voltando a jogar clássicos, todo mundo sai ganhando”.

Já o tricolor Neto Fonseca, é só otimismo para a partida. “Disputar um clássico é algo diferenciado e estamos na expectativa por uma vitória. Com o time em ascensão, o clima para este jogo fica ainda melhor”, declarou.

Na hora de apostar nos candidatos a craque do jogo, as torcidas já elegeram seus ídolos. Carlinhos Bala foi o mais citado entre os alvirrubros, e Marcelo Ramos foi o preferido entre os tricolores. “O Náutico está nos devendo uma vitória em clássicos, e nós vamos vencer esse jogo por 2x0, com gols de Bala e Lessa”, arriscou o alvirrubro Alexsandro Lira. “Tenho certeza de nossa vitória, até porque com Marcelo Ramos em campo, não tem placar em branco”, brincou o tricolor Gustavo Menezes.

O último Clássico das Emoções aconteceu no segundo turno do Campeonato Pernambucano de 2007, nos Aflitos, com o Náutico vencendo o Santa por 2x1. Marcel e Alysson marcaram os gols do Náutico, enquanto Marcelo Ramos descontou para o Santa.

Última partida marcou fim de tabu alvirrubro

A última vez que Náutico e Santa Cruz se enfrentaram também marcou a quebra de uma longa invencibilidade coral sobre os alvirrubros, que durou exatos dois anos, nove meses e 12 dias. Com a vitória por 2x1, no dia 25 de março de 2007, nos Aflitos, o Timbu interrompeu a sequência de sete triunfos corais seguidos e um empate no Clássico das Emoções.

Marcel e Alysson marcaram os gols do Náutico, enquanto Marcelo Ramos fez o do Santa. O atacante coral, aliás, é o único jogador presente no embate de 2007 que começará atuando no duelo de hoje. Kuki, outro que atuou naquele dia, começará o confronto desta tarde no banco de reservas.

Além da quebra do jejum alvirrubro, o clássico ficou marcado pela confusão envolvendo Kuki e o lateral-esquerdo Marquinhos Caruaru, hoje no Central. Na descida para o intervalo, o atacante timbu partiu para cima do tricolor. O caso terminou na delegacia.

Náutico: Gléguer, Sidny, Índio (Breno), Alysson e Deleu, Elicarlos, Walker, Acosta (Cristian) e Marcel, Kuki e Felipe (Felipe Dias). Técnico: PC Gusmão. Santa: Gottardi, Adriano, Hugo e Juliano, Carlinhos, Romeu, Michel (Leandro Bitton), Marquinhos (Jairo) e Marquinhos Caruaru, Marco Antônio (Adauto) e Marcelo Ramos. Técnico: Charles Muniz.

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