Clássico das emoções // Resultado de 2 x 2 tirou do Náutico e do Santa Cruz o poder de decidir o próprio destino no primeiro turno
Cassio Zirpoli e Marcel Tito // Diario
cassiozirpoli.pe@diariosassociados.com.br
marceltito.pe@diariosassociados.com.br
Cassio Zirpoli e Marcel Tito // Diario
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O resultado justo era a vitória do Náutico. De goleada, possivelmente. Mas no futebol a razão existe para ser contrariada. E, não fosse uma defesa de Eduardo no segundo tempo, seria ela mais uma vez desmoralizada nos Aflitos. Melhor para o Santa Cruz? Nem tanto. O empate em 2 x 2 no Clássico das Emoções foi um bom resultado diante das circunstâncias, mas tira das mãos do clube o poder de decidir o próprio destino. Agora, para conquistar o turno, o Tricolor precisa de um tropeço do Sport, além de uma vitória do Clássico das Multidões do próximo domingo. Está difícil.
Difícil como também era imaginar que o Santa Cruz poderia abrir o placar no clássico de ontem. A equipe de Márcio Bittencourt entrou preocupada exclusivamente em marcar. Não conseguia. O Náutico era veloz e envolvia a defesa tricolor com facilidade. Faltava a precisão de um matador para balançar as redes. Alguém tipo Marcelo Ramos, que aproveita qualquer oportunidade como fosse a única, a última. Marcelo estava do outro lado. E aproveitou a única chance tricolor do primeiro tempo. Nos Aflitos, ele fez Santa Cruz 1 x 0 aos 18 minutos.
O golpe foi duro, principalmente para os torcedores. O time permaneceu equilibrado, continou dominando. Chegava na área adversária, mas não conseguia concluir com eficiência. Tanto que o empate aos 41 começou num erro. O chute de Carlinhos Bala da intermediária saiu fraco, rasteiro, sem direção. A bola acabou sendo disputada por Lessa e Thiago Matias. Acabou nos pés de Gilmar. Estava fácil e ele não decepcionou: 1 x 1.
Os primeiros minutos do segundo tempo só aumentaram a injustiça que seria o Náutico deixar o campo sem conquistar os três pontos. O minuto inicial nem havia sido completado e o Timbu já tinha mandado uma bola na trave. O gol saiu logo, aos quatro minutos. Carlinhos Bala marcou aproveitando o cochilo dos defensores corais.
O domínio da partida, a vantagem no placar e o apoio da torcida tornaram o momento perfeito para o Náutico consolidar a vitória. Parecia simples, mas os pecados ofensivos voltaram a artomentar. Não por qualidade, mas por omissão. Parecia faltar vontade aos alvirrubros de balançar as redes. Pensavam, talvez, que o adversário estava morto - como de fato parecia. O Santa Cruz estava em campo apenas. Não criava nada ofensivamente.
Até a entrada de Pedro Henrique. Aos 14 minutos, o meia substituiu o apagado Leandro Gobatto e aproveitou o desleixo da defesa timbu. Aos 16 conseguiu cavar uma falta na entrada da área. Marcelo Ramos iria cobrar. Sandro pediu e o atacante cedeu a oportunidade. Lembrou a responsabilidade da chance única. Sandro não decepcionou. Era o empate. O gol esfriou o Náutico. O Timbu queria ganhar, mas faltava ânimo e qualidade. O Santa Cruz também queria, mas Eduardo não permitiu. O empate estava sacramentado.
Palavra dos professores
"A minha preocupação era chegar bem no clássico, e conseguimos. É claro que tivemos alguns erros, mas o rendimento foi bom. Me agradou na equipe a postura aguerrida e bem posicionada no campo. Não me agradou perder algumas chances no primeiro tempo, quando vencíamos por 1 x 0, com lances com de um contra um no contra-ataque. Mas saí satisfeito".
Marcio Bittencourt
"Mesmo se for disputar campeonato de dominó, só entro para vencer. Sabemos das dificuldades para conquistar o primeiro turno, mas iremos fazer nosso melhor nas próximas partidas"
Roberto Fernandes
Náutico 2
Eduardo; Carlinhos (Adriano Magrão), Vágner, Galiardo e Anderson Santana; Nunes, Johnny (Derley), Juliano (Dinda) e Carlinhos Bala; Gilmar e Anderson Lessa. Técnico: Roberto Fernandes.
Santa Cruz 2
André Zuba; Thiago Matias, Sandro e Leandro Camilo (Memo); Parral, Bilica, Wágner, Leandro Gobatto (Pedro Henrique) e Juca; Marcelo Ramos (Anderson) e Márcio. Técnico: Márcio Bittencourt.
Local: Aflitos. Árbitro: Wilson Souza. Assistentes: Jossemmar Diniz e Pedro Wanderley. Gols: Gilmar e Carlinhos Bala (N); Marcelo Ramos e Sandro (S). Cartões amarelos: Juliano (N); Leandro Camilo, Parral e Bilica (S). Cartão vermelho: Bilica (S). Público: 15.305. Renda: R$ 55.360,00.
O diálogo, o míssil e a homenagem ao pai
Santa // Sandro pediu a Marcelo Ramos para cobrar a falta que resultou no gol de empate
-Eu vou bater essa falta, anunciou Marcelo Ramos.
-Deixa eu chutar essa de pertinho, Marcelo. Pô, toda vez só deixam eu bater do meio-campo, pediu Sandro.
-É... Deixa mesmo, porque ele vai mandar por cima, alfinetou Carlinhos Bala.
-Tá certo, Sandro. Mas você vai ter que fazer o gol, respondeu Marcelo Ramos.
-Pode deixar comigo. E vou mandar um bomba para estourar esse gol, finalizou a conversa Sandro
A conversa acima antecedeu o gol de empate do Tricolor, aos 17 minutos do segundo tempo. Um míssil indefensável do veterano zagueiro, que completará 36 anos no próximo dia 17. O seu primeiro gol de falta desde 2006, quando defendia o Guarani. Na comemoração, Sandro simulou estar dirigindo no gramado, em uma homenagem ao pai, seu João, que mesmo aos 82 anos ainda trabalha como taxista no Engenho do Meio. "Eu fiz essa promessa em 1999, e todos os gols que eu faço são assim. Ele está feliz hoje (ontem), porque é tricolor. É um guerreiro também que conseguiu criar 14 filhos", afirmou o capitão, que achou justo o empate.
O zagueiro admitiu a dificuldade para tentar conquistar o primeiro turno (devido à distância de cinco pontos em relação ao Sport), mas ressaltou a importância para o grupo de um jogo de "igual para igual" contra um time da Série A (Náutico). "Fomos guerreiros até o final do jogo. Estamos evoluindo, mesmo com essa tabela na qual jogamos apenas duas das sete partidas em casa. O turno ficou um pouco difícil, mas temos um confronto direto contra eles e o Sport ainda vai pegar o Náutico".
Apesar de ter sido elogiado pela atuação, o atacante Marcelo Ramos - que abriu o placar nos Aflitos e chegou a cinco gols no Estadual - lamentou mesmo foi o "quase gol", quando o centroavante cabeceou no contrapé do goleiro Eduardo, que conseguiu evitar a virada com os pés. "Aquela foi a bola do jogo. O Náutico teve mais volume de jogo, mas fomos bem e poderíamos ter saído com a vitória. O jogo mostrou a força do nosso grupo, e estamos felizes com isso", completou Marcelo. Para o atacante, o time ganhou ainda mais moral paraenfrentar o Sport, no próximo domingo. O grupo coral deverá se reapresentar hoje à noite, no Arruda, onde os jogadores farão um treino regenerativo.
O árbitro
Conhecido como um árbitro rigoroso, Wilson Souza optou demasiadamente pela conversa com os jogadores no Clássico das Emoções. Em alguns lances, o cartão amarelo poderia ter saído do
bolso do juiz. No final, o diretor de futebol do Santa, Antônio Ruas Capella, ainda disparou contra Wilson, dizendo o árbitro teria intimidado os jogadores do Tricolor. "Ele foi rigoroso demais na expulsão de Bilica. Foi uma atuação desastrosa".
Minuto a minuto
1º tempo
4 min - Johnny chuta da entrada da área, com efeito. Zuba espalma na direção de Carlinhos Bala. O atacante tenta cabecear a bola, quase rasteira, e desperdiça a chance nas mãos do goleiro tricolor.
6 min - Juliano arranca em velocidade da intermediária, tabela com Carlinhos Bala e recebe na área. Na hora do chute, é travado por Juca.
12 min - Carlinhos Bala arranca da defesa e toca para Gilmar, na direita. O atacante se livra da marcação e chuta forte. Zuba desvia para escanteio.
17 min - O lateral Carlinhos cruza da direita. Anderson Lessa cabeceia sem direção, por cima do gol de Zuba.
18 min - Gobatto recebe lançamento na esquerda e cruza. Vágner não consegue interceptar e a bola cai no pé esquerdo de Marcelo Ramos, que com categoria faz 1 x 0.
34 min - Parral ganha dividida para Anderson Santana na defesa e avança com liberdade. É indeciso ao chegar na entrada da área timbu e chuta sem força. Eduardo defende.
40 min - Parral cruza rasteiro, Eduardo defende com facilidade.
41 min - Carlinhos Bala chuta rasteiro. Anderson Lessa divide com Thiago Matias de carrinho e a bola sobra para Gilmar. O atacante vence Sandro na velocidade e chuta forte, sem defesa para Zuba. Náutico 1 x 1 Santa.
46 min - Boa jogada de Parral pela direita. O lateral se livra de dois marcadores e deixa Gobatto livre para finalizar da entrada da área. A bola passa por cima.
2º tempo
1 min - Carlinhos cruza da direita e Sandro corta. Na cobrança de escanteio, Carlinhos Bala manda na cabeça de Gilmar, que manda a bola na trave tricolor.
4 min - Bala sofre falta na esquerda. Cobra rápido e, na tabela com Anderson Santana, invade a área e chuta. André Zuba se estica e ainda toca na bola, mas não consegue evitar a virada do Náutico: 2 x 1.
8 min - Falta para o Náutico. Bala cobra, a bola desvia na barreira e sobra para Johnny. O volante chuta e a zaga corta mais uma vez.
16 min - Falta para o Santa Cruz na entrada da área. Sandro manda uma bomba. Eduardo tenta tirar, mas não consegue e o Tricolor empata o jogo: 2 x 2.
26min - Carlinhos Bala cruza da esquerda e Vágner, na segunda trave, cabeceia. André Zuba desvia para escanteio.
29 min - Pedro Henrique cruza da esquerda e Marcelo Ramos cabeceia. Eduardo realiza grande defesa com o pé direito.
42 min - Outra jogada individual de Parral pela direita. Mais uma vez, ele se atrapalha no momento de finalizar e Eduardo defende fácil.
47 min - Falta para o Náutico. Carlinhos Bala cruza da direita e Derley, na segunda trave, cabeceia para fora.
Atuação
Náutico
Eduardo - Fez uma defesa extraordinária aos 29 minutos do segundo tempo, a sua única intervenção real na partida. Não teve culpa nos gols. 6,5
Carlinhos - Estreia satisfatória. Caiu de rendimento na segunda etapa. 6
(Adriano Magrão - Apareceu em dois lances e não aproveitou. 4)
Vágner - Não conseguiu cortar a bola no primeiro gol tricolor. 5,5
Galiardo - Não acompanhou Marcelo Ramos no primeiro gol. Chegou atrasado em outros lances. 5
Anderson Santana - Bem no apoio, deixou brechas no sistema defensivo. 5,5
Nunes - Pecou na cobertura dos laterais apenas. 5,5
Johnny - Chegou várias vezes ao ataque com qualidade. 6
(Derley - Nos minutos que esteve em campo, atuou ainda mais avançado do que Johnny. Sem a mesma eficiência, porém. 5,5)
Juliano - Muito bem no início do jogo, criando os lances ofensivos com Carlinhos Bala. Sumiu do jogo e acabou substituído. 5,5
(Dinda - Teve duas oportunidades e não aproveitou. 5,5)
Bala - Participou do primeiro gol do Náutico e marcou o segundo. Se movimentou bastante. 7
Gilmar - Apareceu sempre com velocidade e marcou o primeiro gol. 7
Anderson Lessa - Sumido. Não conseguiu sair da marcação tricolor. 4
Santa Cruz
André Zuba - Isento de culpa nos gols alvirrubros. Fez pelo menos duas boas defesas. 6
Thiago Matias - Atuação regular. Esteve perdido no posicionamento em alguns lances. 5,5
Sandro - Perdeu o tempo na marcação de Gilmar no primeiro gol timbu. No mais, uma atuação precisa, coroada com um belo gol de falta. 7
Leandro Camilo - Deixou muitos espaços livres para o ataque alvirrubro. 4,5
(Memo - Entrou com a responsabilidade de anular Carlinhos Bala e cumpriu a sua missão. 6)
Parral - Puxou o time para o ataque, mas pecou quando preferiu finalizar 5,5
Bilica - Abusou das faltas. 4,5
Wágner - Se limitou a marcar. Deu liberdade aos meias alvirrubros. 5
Gobatto - Sua atuação fica restrita ao cruzamento para Marcelo no primeiro gol do Santa. 4
(Pedro - Melhorou - e muito! - a qualidade na saída de bola do Santa7)
Juca - Começou bem, mas se perdeu no posicionamento. 4
Marcelo Ramos - Teve duas chances. Fez na primeira e só não balançou as redes na outra por causa de Eduardo. 7
(Anderson - Entrou para reforçar a marcação no meio-campo. 5,5)
Márcio - Apagado. Nas vezes em que foi acionado, nada produziu. 4
Alvirrubros ficam abalados
Rodolfo Bourbon // Do Aqui Pe
"Por que não conseguimos ganhar?" O questionamento do zagueiro Galliardo, após o clássico, ressoou como uníssono entre os atletas alvirrubros, visivelmente abalados com o empate. Em função do resultado que praticamente eliminou as chances de conquista do primeiro turno do Estadual, o clima nos vestiários do Náutico beirou a melancolia e a busca por explicações. "Foi o melhor jogo do nosso time. Quando eu estava em campo, pensei que hoje seria o momento da reviravolta. Não dá para entender", lamentou o lateral-esquerdo Anderson Santana.
O atacante Carlinhos Bala disparou críticas ao recuo da equipe depois de marcar o gol da virada. "Deixei o time na frente, mas não soubemos cadenciar o placar. Faltaram calma e agressividade. Não podemos mais errar."
Sobre a motivação para a disputa das próximas rodadas, a opinião dos jogadores permaneceu divida. "Está um pouco distante, mas dá para sonhar", avaliou Galliardo. O goleiro Eduardo, em contrapartida, adotou discurso mais realista. "Perdemos o primeiro turno", enfatizou.
Já o treinador Roberto Fernandes deseja aproveitar o restante dos jogos da primeira fase para afinar o elenco. "No segundo turno, certamente estaremos mais preparados quanto a regularizações, entrosamento e aptidão física. Nesta partida fui forçado a realizar três alterações sem critério técnico ou tático. Juliano cansou, Bala pediu para sair e Johnny se lesionou", afirmou.
O lance que retirou o volante Johnny do duelo - chute no solado de um atleta do Santa Cruz - causou preocupação no jogador e na equipe médica do Timbu. "Ele achou que tinha quebrado o pé. Mas não constatamos a fratura. Fizemos a medicação e iremos esperar a evolução da contusão. É dúvida para o próximo jogo", frisou o médico alvirrubro Paulo Regueira.
Tricolores com ingresso do Todos com a Nota
Os tricolores não assistiam a um clássico há quase dois anos. Mesmo com a saudade de ver o time enfrentando os velhos rivais, os torcedores do Santa não ficaram muito dispostos para pagar R$ 40 por um ingressos de arquibancada ontem à tarde, nos Aflitos. Muitos deles (cerca de 1/3 do total) entraram no estádio com o ingresso da promoção Todos com a Nota, que foi exclusivo para a torcida do Náutico. Sendo assim, o acesso também foi pelo setor alvirrubro. O resultado disso? Muita confusão, com direito a 'corredor polonês', pancadaria e correria, em um episódio semelhante ao que aconteceu em 5 de feveiro de 2007, quando torcedores do Sport tiveram a mesma "ideia", também em um clássico nos Aflitos.
Ontem, porém, policiais militares do Batalhão de Choque, já esperavam a ação de parte da torcida coral (principalmente de integrantes da organizada Inferno Coral). Como seria difícil a identificação - já que todos os torcedores do Santa entraram sem a camisa do time na arquibancada timbu -, o jeito foi reunir todos ostorcedores e liberar o acesso. Para a revolta da torcida do Náutico, diga-se. Certamente, um motivo para explicar a renda bem abaixo do esperado (apenas R$ 55.360).
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