segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Santa frustra torcida de novo e fica à beira do inferno


Sem chance de classificação, tricolor tem remota possibilidade de se manter na Série C 2009. Vai precisar de combinação de resultados

A linha que separa o Santa Cruz da Série D do Brasileiro é tênue. Eliminado ontem da Série C – e da luta pela B – com o empate por 1x1 diante do Campinense, no Arruda, pela penúltima rodada do Grupo 19 da segunda fase, resta ao time comandado por Ronaldo Bagé tentar a difícil missão de terminar com uma das quatro melhores campanhas entre os 16 desclassificados e, desta forma, garantir a vaga na Terceirona da próxima temporada.

A eliminação da Série C veio de forma dolorida. O Santa não apresentava o futebol dos sonhos do torcedor. Aliás, jogava em certos momentos até de forma bisonha. Mesmo assim, vencia, por 1x0, até os 44 minutos do segundo. Foi quando o lateral-esquerdo Fernandes recebeu a bola do meia Washington dentro da área e decretou o empate. O último ato do time nesta temporada será somente dia 6 de setembro, contra o Salgueiro, no Cornélio de Barros.

Com três empates e duas derrotas nesta fase, o Santa ocupa atualmente a lanterna do quadrangular. Os rubro-negros paraibanos estão em terceiro, com seis pontos, e vivos na busca de uma das duas vagas ao terceiro quadrangular. Com o empate por 1x1 no Romeirão, em Juazeiro do Norte, Icasa-CE e Salgueiro foram a oito. Os sertanejos pernambucanos levam a melhor na classificação no critério de saldo de gols (2x0).

No momento, 24 times entre os 32 que estão participando de um dos oito quadrangulares da segunda fase fazem melhor campanha que o Santa Cruz. Também é preciso levar em consideração que seis chaves estão defasadas em relação aos Grupos 19 e 18, ambos com a quinta rodada realizada. Nos Grupos 17, 21, 22 e 23 as equipes disputaram quatro jogos, no 20, foram três partidas, enquanto no 24 houve apenas duas rodadas. Julgamentos na Justiça Desportiva foram os motivos do atraso.

O retrospecto da competição não é nada agradável para os torcedores tricolores. A Série C está na terceira temporada seguida com a mesma fórmula. Tanto em 2006 quanto no ano passado, seis equipes entre as 16 eliminadas na segunda fase fizeram mais de seis pontos, pontuação máxima que o Santa pode alcançar na temporada atual. “É um momento difícil. Precisamos manter a cabeça fria. Sabemos que é quase impossível ficar na Série C”, analisou o diretor Jomar Rocha.

JOGO

Como somente a vitória manteria os tricolores na briga por uma das duas vagas à próxima fase, o Santa Cruz iniciou marcando no campo de ataque e pressionando o adversário. Não demorou para conseguir abrir o placar. Aos 11 minutos, o meia Rosembrik bateu uma falta da intermediária e encontrou o zagueiro Gonçalves em boas condições. O defensor pegou de primeira e marcou um bonito gol.

Mas, pressionado pelo jejum de seis jogos sem vitória e se vendo na frente, os corais trataram de recuar e abdicaram totalmente de atacar. Nem mesmo contra-ataques no aberto Campinense os corais conseguiram encaixar. Desta forma, os paraibanos martelaram, sobretudo com os avanços do lateral-esquerdo Fernandes. Aos 26, o atacante Vanderlei, de bicicleta, acertou o travessão de Glédson.

Com o apito do árbitro, a primeira metade da etapa estava cumprida. Ainda faltavam, porém, os outros 45 minutos. O Santa manteve a estratégia, enquanto o Campinense se abriu mais, beirando o desespero. E foi recompensado pelo “extinto” ofensivo. Com segundos para o cronômetro atingir os 45 minutos, Fernandes empatou o jogo e fez a festa dos visitantes.
FICHA DE JOGO SANTA CRUZ

Glédson, Rafael Mineiro, Gonçalves e Stanley, Marcos Vinícius, Alexandre, Vágner Rosa, Juninho (Uécslei) e Jefferson (Camilo), Rosembrik e Edmundo (Patrick). Técnico: Bagé.

CAMPINENSE

Pantera, Tiago, Jadson (Henrique), Cícero e Fernandes, Charles Vágner, Marquinhos Mossoró (Barata), Jean Alisson (Paulinho Macaíba) e Washington, Vanderlei e Marquinhos Marabá.

Técnico: Freitas Nascimento.

Local: Arruda. Árbitro: André Luís Lopes (MG). Assistentes: Ubiratan Viana (RN) e Luiz Carlos Camara (RN). Gols: Gonçalves, aos 11 minutos do 1º tempo, e Fernandes, aos 44 do 2º. Cartões amarelos: Stanley, Vágner Rosa, Marcos Vinícius, Rosembrik (S), Cícero e Vanderlei (C). Expulsão: Rafael Mineiro. Público: 17.455. Renda: R$ 18.515.

Bagé diz que sua culpa é pequena

Contestado pela torcida e mais uma vez chamado de burro ainda durante o jogo, o técnico gaúcho Ronaldo Bagé procurou se isentar de culpa pelos maus resultados e a conseqüente eliminação da equipe na Série C do Campeonato Brasileiro. O treinador está trabalhando no Arruda desde o dia 15 do mês passado e dirigiu o Santa Cruz em oito partidas da competição.

Bagé acumula uma vitória, cinco empates e duas derrotas. O índice de aproveitamento do time sob o seu comando é de 33,3%. “Fiz o máximo. O torcedor é inteligente e sabe que tenho pouca culpa nisso tudo porque não montei esse grupo. Trabalhei dentro do disponível. O elenco necessitava de jogadores mais qualificados. Agora estou sem coragem até de voltar para o Rio Grande do Sul”, disse o técnico.

A diretoria do Santa Cruz preferiu não oferecer declarações sobre a continuação de Bagé e também dos jogadores para o último jogo da competição. Uma reunião entre os dirigentes deve acontecer hoje. “Não quero culpar ninguém. Mas, dentre todos, Bagé é quem tem a menor parcela na eliminação. Não houve planejamento”, opinou o zagueiro Sandro.

Alexandre: dor da eliminação em dobro

Antes mesmo de o árbitro mineiro André Luís Lopes apitar o final do jogo, o volante Alexandre, 30 anos, derramou as primeiras lágrimas no gramado. Depois, o jogador não se conteve e deu as primeiras entrevistas aos prantos. O capitão do time é também um torcedor do Santa Cruz desde criança, que passou a mesma paixão para os três filhos. A dor em dobro pela eliminação foi tratada com um sentimento forte, comparada até ao falecimento do irmão Irinaldo Júnior, que, por problemas de saúde, não resistiu e morreu no dia 27 de abril do ano passado, aos 24 anos.

Ontem, quebrando um costume, Alexandre não levou o filho para entrar com o time como mascote e assistir ao jogo no Arruda. O menino ainda carrega as marcas da partida anterior, quando um grupo de vândalos tentou invadir os vestiários para agredir jogadores e seus familiares. “Ele sempre me perguntava quando nós voltaríamos a vencer. Queria presenciar novamente o time no estádio. Agora não sei nem com que cara vou olhar para os meus filhos”, disse o volante, que reside em Itamaracá.

Alexandre desembarcou no Arruda durante a disputa do Campeonato Pernambucano. Voltou para ficar mais próximo da família, até por conta da morte do irmão, e realizar o sonho de vestir a camisa do clube de coração. Antes, esteve defendendo a Portuguesa de Desportos por duas temporadas seguidas. “Vim aqui para recolocar o Santa Cruz na Série B. Aconteceu o contrário, criei essa dívida enorme com o clube. Inevitavelmente esse grupo criou uma imagem de derrotado.”

Na sala de entrevistas, o cabeça-de-área foi informado pelos repórteres sobre a possibilidade de permanência da equipe na Série C do Campeonato Brasileiro. “Não era para isso que queríamos lutar. Mas se é o que resta, vamos em busca para tentar vencer o Salgueiro lá dentro e pelo menos deixar o clube onde nós encontramos. Somos profissionais e, até o último jogo, vamos lutar da mesma forma de sempre”, garantiu.

O zagueiro Sandro também tem um envolvimento emocional com o Santa Cruz que extrapola os limites profissionais. “Tenho vários familiares que torcem para o clube e sei a dimensão dessa torcida. Não sei o meu futuro aqui, até por questões de diretoria. Mas essa é a última camisa que visto”, revelou Sandro, 35 anos, que não enfrentará o Salgueiro por conta de uma lesão na musculatura da coxa direita.

Polícia Militar impede nova invasão ao vestiário

Assim que o Campinense empatou o jogo, o corre-corre foi grande do lado externo do estádio José do Rêgo Maciel. Muitos torcedores do Santa Cruz se aglomeraram no portão do estacionamento que dá acesso aos vestiários para protestar. Pela ira de alguns manifestantes, a intenção era repetir o ato de duas semanas atrás, quando uma vidraça da sala de imprensa foi quebrada após a derrota por 1x0 para o Icasa.

Mas dessa vez, eles não conseguiram passar pelos policiais. O efetivo de aproximadamente 100 homens impediu que os torcedores tivessem acesso às dependências do clube. Na confusão, o porteiro Humberto Moraes do Nascimento levou um soco no rosto e foi atendido na policlínica Amauri Coutinho, na Campina do Barreto.

“Sabíamos que se o resultado não fosse favorável, a torcida do Santa Cruz se manifestaria. Por isso trabalhamos para impedir a entrada na parte interna do clube destes torcedores, que poderiam provocar um quebra-quebra”, disse o tenente-coronel Tenório Maranhão, do 11º Batalhão da PM.

O efetivo foi dividido em vários grupos. Cerca de 20 policiais do Batalhão de Choque fizeram uma barreira em frente à grade que isola os vestiários. Outro grupo ultrapassou o portão do estacionamento e partiu para dispersar os torcedores. Aos poucos, com o auxílio da Cavalaria, os manifestantes foram empurrados para a Rua das Moças e depois para a Avenida Beberibe. Pedras lançadas pela torcida quebraram vidros laterais de duas vans da PM.

Além de gritarem “time sem vergonha”, alguns torcedores ameaçaram o presidente Edson Nogueira. “Edinho, sua vida está em perigo”, bradou um tricolor que descia pela rampa que desemboca na Rua das Moças.

“A torcida do Santa Cruz não merecia isso. Quem deveria ser preso é esse presidente (Edson Nogueira). Colocou o Santa na Terceira Divisão e contratou um treinador de jogo de botão para comandar a equipe. O resultado agora é a quarta divisão”, desabafou o vigilante Chico da Cobra, 51 anos.

Vale a pena lembrar que o Santa Cruz ainda tem remotas chances de permanecer na Série C, se terminar com uma das quatro melhores campanhas, entre os 16 que não passarem à terceira fase. Atualmente, dos 32 clubes que disputam a segunda fase, o Santa tem a 25ª campanha. Tem mais um jogo para cumprir. Por precaução, uma viatura da PM ficaria de plantão no Arruda até a manhã de hoje.

ELEIÇÕES

Mesmo sob clima de tensão, Rubens Magalhães, integrante da Veneno Coral, afirmou que a facção tem uma reunião marcada para amanhã, às 19h30, no Empresarial Trade Center, na Avenida Rosa e Silva. A intenção é tratar do plano de ação do grupo, que pretende disputar as eleições do clube, no fim do ano. “Vamos pedir a antecipação do pleito, pois não há tempo a perder. Temos que começar a trabalhar já na montagem do time para a disputa do Campeonato Pernambucano, no qual precisamos nos classificar para a Quarta Divisão do Campeonato Brasileiro”, disse Magalhães.

Segundo ele, a chapa já está praticamente fechada. Fernando Veloso seria o nome para concorrer à presidência do executivo, com Osmundo Bezerra, na vice, e Sílvio Ferreira, no Conselho Deliberativo.

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