Marcos Pastich | Empate no final elimina o Santa Cruz da Série C e deixa clube a um passo da D |
Desatento, time levou um gol aos 44 do segundo tempo | |
Filipe Assis |
Primeiro, a empolgação. Logo em seguida, a desconfiança. Pouco a pouco, vieram o sofrimento, o desespero e a agonia. Até que, ontem à tarde, ao empatar com o Campinense em 1x1, no Arruda, o sonho de se livrar da Série C foi desfeito, com um gol aos 44 minutos do segundo tempo. E o roteiro sobre a participação do Santa Cruz em Campeonatos Brasileiros deixou de ser um drama, para se transformar em terror. Ao Tricolor, restou apenas a esperança de um milagre para garantir uma vaga na Terceira Divisão do próximo ano, como um dos quatro melhores times entre os que não se classificarem para a próxima fase.
Quanto ao tropeço de ontem - a sétima partida do Santa Cruz sem vencer -, os jogadores, após o apito final, não encontraram palavras para resumir o que havia acontecido. Entretanto, é fácil explicar o empate. Porque os erros cometidos foram os mesmos de toda a campanha na Série C: As finalizações erradas, de uma equipe que demonstrou uma carência gritante nesse fundamento, a falta de volume de jogo, característica de um time sem conjunto, e, por fim, a desatenção. Esta foi a grande causa de mais um vexame coral.
Embora tenha finalizado pouco e mal, o Santa Cruz “achou” um gol logo aos 11 minutos de partida, quando Rosembrick cobrou uma falta, e o zagueiro Gonçalves apareceu para desviar a bola. A partir de então recuou, atraindo para seu campo o Campinense. Apesar do sufoco, defendeu-se bem, na base da vontade. Parecia que o fim do jejum de vitórias estaria próximo.
Essa impressão ficou ainda mais nítida no segundo tempo, quando o time melhorou, e passou a criar algumas chances de gol. Poderia até ter marcado o segundo gol, mas, uma vitória simples bastaria para o Santa Cruz ter chance de avançar na competição. Aos 44 minutos, o time paraibano armou um contra-ataque. Bastava para a jogada, pois poderia ser o último lance de jogo. E foi.
A mesma desatenção de sempre permitiu que os tricolores deixassem o lateral Fernandes livre pelo lado direito. Ele recebeu um lançamento, aproveitou o amplo espaço à frente, avançou, e fuzilou a meta de Gledson. O Estádio do Arruda, com 17 mil pessoas, ficou calado. Era o silêncio de quem não queria acreditar no que estava vendo.
A equipe volta a campo agora no dia 6 de setembro, contra o Salgueiro, no Sertão pernambucano, na rodada de encerramento da Terceira Divisão. Se ganhar, o Tricolor pode, dependendo de uma combinação de resultados, continuar na Série C do próximo ano. No caso de um empate ou uma derrota, o Santa Cruz terá de garantir, no Pernambucano, uma vaga na Série D.
Santa Cruz
Glédson; Rafael Mineiro, Gonçalves e Stanley; Marcos Vinícius, Vágner Rosa, Alexandre Oliveira, Juninho (Wesley), Rosembrick e Jéfferson (Camilo); Edmundo (Patrick)
Técnico: Bagé
Campinense
Pantera; Tiago Bastos, Jadson (Henrique), Cícero e Fernandes; Charles Wagner, Marquinhos Mossoró (Barata), Jean Alysson (Paulinho Macaíba) e Washington; Marabá e Vanderley
Técnico: Freitas Nascimento
Local: Arruda
Árbitro: André Luís Martins (MG)
Assistentes: Ubiratan Viana e Luís Carlos Bezerra (ambos do RN)
Cartões amarelos: Stanley, Marcos Vinícius, Vágner Rosa e Rosembrick pelo Santa Cruz; Cícero e Vanderley (pelo Campinense)
Cartão vermelho: Rafael Mineiro
Gols: Gonçalves (11 do 1ºT) e Fernandes (44 do 2ºT)
Público: 17.455
Renda: R$ 18.515.
Bagé sai e diz que teve “pouca culpa”
A confirmação deve ser feita hoje, mas, desde ontem à noite, Bagé não é mais técnico do Santa Cruz. O desastre contra o Campinense foi a última partida do treinador à frente do Tricolor. A eliminação na Série C, a seqüência de sete partidas sem vencer e as crescentes cobranças da torcida fizeram com que o profissional não tivesse mais condições de continuar no Arruda.
A postura adotada por Bagé ao final da partida, durante a entrevista coletiva, denunciou que ele estava de saída. Abatido, disse estar triste e, em tom de despedida, lamentou a situação. Como quem não precisa mais ter o cuidado de expor problemas internos, criticou o fato de o clube não ter contratado os reforços que ele queria. “O Bagé tem muito pouca culpa no que aconteceu”, frisou, ao falar de si próprio.
Até chegar a essa constatação, o treinador lembrou que alguns jogadores vieram fora de forma, disse que pediu reforços de peso, mas não foi atendido, e criticou a preparação feita para a competição. “A falta de planejamento reflete até na nossa casa”, concluiu.
Ao ser questionado por um repórter se continuaria no cargo, Bagé revidou: “Você, no meu caso, continuaria?” E ao ouvir um não como resposta, ele disse que precisava conversar com o presidente. Nessa conversa, segundo informações extra-oficiais, ele entregou o cargo.
O diretor de futebol Jomar Rocha ponderou ao falar sobre o treinador. Disse apenas que era preciso ter cautela, para “não tomar nenhuma decisão precipitada”, frase típica usada para retardar o anúncio da queda do treinador.
CAMPANHA
O retrospecto de Bagé no comando técnico coral justifica a sua saída. Em oito jogos, ele ganhou apenas na estréia, na vitória por 2x0 contra o Potiguar, no Arruda, ainda na Primeira Fase. Depois disso, foram duas derrotas, ambas para o Icasa, e cinco empates, inclusive o de ontem.
PM arma esquema de guerra e evita confusões
Costa Neto | Ação da polícia impediu protestos e violência dentro do clube |
Batalhão de Choque escoltou torcedores que protestavam para fora do Arruda | |
Alexandre Barbosa |
Já prevendo que o pior pudesse acontecer, a Polícia Militar (PM) foi para o jogo entre Santa Cruz e Campinense, ontem, no Arruda, preparada para evitar que cenas de violência como as vistas na partida contra o Icasa, há duas semanas, no mesmo José do Rêgo Maciel, se repetissem. Assim, desta vez, quando o pior realmente acabou acontecendo, o policiamento, que foi reforçado (cerca de 100 homens foram escalados para fazer a segurança do confronto), agiu rapidamente, conseguindo manter a paz, após o apito final do juiz.
Antes mesmo do final do jogo, minutos depois do Campinense marcar o gol de empate, cerca de 15 policiais do Batalhão de Choque, além de seguranças particulares, já guardavam a frente do vestiário tricolor. A grande diferença para o jogo contra o Icasa foi que, desta vez, o portão que dá acesso ao pátio interno do clube foi fechado, impedindo a entrada de torcedores vindos das arquibancadas no local. Outra medida foi a escolta da organizada Inferno Coral para fora do estádio.
Mesmo assim, conforme iam deixando o Arruda, alguns torcedores passaram a se aglomerar à frente do portão, gritando palavras de protesto como “time sem vergonha”, além de xingamentos direcionados ao presidente do clube Edson Nogueira - pedras também chegaram a ser atiradas. Rapidamente, o Batalhão de Choque, que teve o apoio do grupamento de cães e da cavalaria, agiu, dispersando o grupo que se formou. Em formação de batalha, eles iniciaram, então, a “limpeza” da área do estacionamento, retirando todas as pessoas que ainda permaneciam na sede coral.
O mesmo procedimento foi realizado nas ruas em torno do Arruda. O Choque formou um cordão que dispersou os torcedores em direção à avenida Beberibe. Desse modo, nenhuma confusão de grande porte foi detectada. Segundo a PM, algumas pessoas foram autuadas durante a partida - nesses casos, é lavrado apenas um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO). Houve também um flagrante de roubo, que foi encaminhado para a delegacia.
Um caso mais sério foi o de um funcionário do Santa Cruz, identificado apenas como Humberto, agredido com um murro por um torcedor. Ele foi socorrido para a Policlínica Amaury Coutinho, na Campina do Barreto, com suspeita de afundamento do malar.
Chance de ficar na Série C é remota
Apesar do empate em 1x1 com o Campinense e a eliminação da Série C, o Santa Cruz ainda não está, pelo menos matematicamente, fora da Terceirona no ano que vem - o que o forçaria a disputar uma vaga no Pernambucano para a recém-criada Série D. Com apenas três pontos conquistados, o Tricolor ainda tem a remota possibilidade de ficar entre os quatro melhores times que não passarem à fase seguinte.
A tarefa para tornar isso real, no entanto, será bastante árdua. Primeiro, o Santa Cruz tem que fazer o seu papel e vencer o Salgueiro, no dia 6 de setembro, no Cornélio de Barros, chegando aos seis pontos. Daí então, o segundo passo é torcer contra outros times que têm a mesma pretensão. A situação do Tricolor é complicada, principalmente porque a equipe já realizou cinco jogos, enquanto clubes de outros grupos têm pontuação no mesmo patamar, mas com partidas a menos.
Certo mesmo é que o Santa Cruz não pode alcançar o Sampaio Corrêa, atual terceiro colocado do grupo 18, que já chegou aos sete pontos, em cinco confrontos. Além disso, a equipe coral briga contra o próprio Campinense, que já tem seis pontos e caso não venha a se classificar para a fase seguinte da competição, também lutará por uma das quatro vagas dos melhores classificados.
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