segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Torcida tricolor promete fidelidade
Apesar de ver o Santa Cruz passar pela pior crise de sua história, de ser eliminado das disputas do Brasileiro e de ver os jogadores sofrendo humilhações, a torcida do Santa Cruz promete seguir firme. Prenúncio de um futuro promissor. E é pensando na frente que os bastidores começam a ferver. Hoje o secretário Fernando Bezerra Coelho pode oficializar a candidatura à presidência do clube.
Torcida coral sente golpe, mas promete se levantar
Dia 6 de julho, 10h. Mesmo após o sétimo lugar no Campeonato Pernambucano e a eliminação na Copa do Brasil para o Fast Club-AM, a torcida do Santa Cruz era só entusiasmo em Goiana, na primeira parada da caravana que rumava a Campina Grande para assistir à estréia na Série C contra o Campinense. Dois meses depois, a massa tricolor está cabisbaixa. Não para menos, o Santa, por enquanto, é um clube sem série a disputar no Campeonato Brasileiro de 2009. No entanto, nada como um dia após o outro. A galera coral acusa que sentiu o golpe, mas promete não abandonar o clube jamais e aguarda com ansiedade a definição do novo mandatário coral. Sofrendo duplamente, ex-craques dão sugestões para o Santinha voltar a ser grande. Esse é o tema de hoje da série A cruz do Santa. Amanhã, um raio-X do Arruda.
Marcos Leandro
mleandro@jc.com.br
Eles extrapolaram o conceito de fidelidade a um clube de futebol. Dentro ou fora de casa, a torcida do Santa Cruz foi nota 10 na Série C do Campeonato Brasileiro. Nos seis jogos no Arruda, o público acumulado foi de 119.364 – média de 19.894, a melhor da Terceira Divisão. Contabilizando as três séries do Nacional, o tricolor tem a oitava melhor média de público (ver quadro ao lado). Em caravanas fretadas ou em carros particulares, a torcida coral também acompanhou o time em Campina Grande (duas vezes, sendo que na estréia, invadiu a cidade com cerca de seis mil pessoas), Caruaru, Mossoró e Juazeiro do Norte. Essa apaixonada torcida, hoje, é alvo de gozação dos rivais e anda de cabeça baixa devido a situação do clube – rebaixado pela terceira vez consecutiva e que em 2009 só jogará a Série D se for bem no Estadual.
Mesmo com toda a dor e incredulidade, os tricolores prometem dar a volta cima e jamais abandonar o clube. “A humilhação que estamos passando é muito grande. Às vezes, ainda me pego chorando. Porém, quero viver meu clube todos os dias, seja no céu ou no inferno. Inclusive, gostaria de ter ido para Salgueiro no sábado, mas não organizaram nenhuma caravana”, disse a psicopedagoga Ana Maria Tenório, 56 anos, que mesmo com a tragédia que assola o Santinha, não deixa de usar a camisa tricolor, como também pulseiras e colares do clube. “Depois de Deus e a minha família está o Santa”, diz Tenório.
Organizadora das caravanas do Santa Cruz para as cidades dos rivais nesta Série C – ao todo, o grupo rodou 3.456 km entre ida e volta (só não viajou para a despedida contra o Salgueiro) – a comerciante Danielle Leal, 27, chegou ao ponto de mobilizar até uma palestra motivacional para os jogadores, antes do último encontro diante do Campinense, no Arruda, que acabou 1x1 e praticamente sepultou as chances do Santa de seguir na competição.
“A gente sabia que o time era limitado e não seria campeão, mas daí ser eliminado na segunda fase foi um absurdo. Convenci um psicólogo amigo meu a dar uma palestra para os jogadores antes do duelo contra o Campinense. O treinador Bagé tinha concordado, mas quando chegamos na sexta-feira (22/8), Bagé tinha acabado o treinamento cedo e não tinha mais ninguém no Arruda. Poderia ser que não adiantasse nada, mas as pessoas no Santa Cruz não quiseram nem ser ajudadas”, desabafou Danielle, conhecida como Dani tricolor. Desgastada com a situação, Dani promete dar um tempo e acompanhar as eleições presidenciais para o biênio 2009/10 de longe. Mas como apaixonada torcedora, no Campeonato Pernambucano, seja na arquibancada ou na social, ele vai estar novamente no Arruda.
O interessante é que, quanto mais o Santa se afunda, mas a torcida mostra sinais de amor incondicional. No Blog do Santinha (www.blogdosantinha.com), que transformou-se no principal fórum de debates sobre o tricolor, o recorde de comentários (400) até hoje foi justamente após o empate por 1x1 com o Campinense, na segunda fase.
Preocupação com o futuro da massa tricolor
Ela tem apenas 11 anos, mas sua paixão pelo Santa Cruz já é de uma pessoa adulta. Yasmin Alexandre da Silva não esconde sua tristeza com a situação do seu clube de coração, mas afirma que jamais vai deixar de amar o vermelho, preto e branco. “Às vezes, me irrito quando ficam soltando gracinha na escola. Mas vou continuar torcendo, mesmo que o time caia para a Série Z”, falou ela, sem tom de brincadeira. “Em dias de jogos do Santa Cruz, ela não deixa ninguém se aproximar da televisão”, entregou o pai Nivaldo Alexandre da Silva, que por sinal, torce para o Sport.
A grande pergunta que fica daqui para frente é saber quantas crianças vão ter esse comportamento. De acordo com especialistas, a seqüência de maus resultados do Santa abala a penetração do clube entre os mais jovens. “Quem já acompanha há muito tempo não será problema. Mas a tendência é que a garotada deixe de torcer pelo clube, sobretudo quando um rival consegue bons resultados (Sport). O Santa Cruz perdeu a credibilidade, precisa de um choque de gestão e deixar de ser um clube de plataforma política”, enfatiza José Carlos Brunoro, especialista em marketing esportivo. Ele conheceu a realidade do Santa em 1995, na época da parceira com a multinacional Parmalat.
Vale a pena destacar que de acordo com uma pesquisa recente da Faculdade de Filosofia do Recife (Fafire), a torcida do Sport é que mais cresce entre os jovens. Cinqüenta e três por cento dos rubro-negros têm entre 16 e 35 anos. E 28% do total têm menos de 25. Já a maior parte dos torcedores do Santa Cruz (53%) tem entre 46 e 60 anos.
Tristes, craques do passado dão sugestões
O caótico momento que passa o Santa Cruz mexe também com ex-jogadores que ajudaram a construir a história do clube. Pentacampeões estaduais (1969/70/71/72/73), Luciano Veloso e Fernando Santana, dois dois maiores ídolos do tricolor, reconhecem que nunca imaginaram que o Santa pudesse atravessar uma crise como esta. Ambos defendem mudanças daqui para frente. Hoje administrador de empresas, Fernando Santana é o mais radical. Para ele, o clube deveria parar suas atividades por uma ano.
“Não sei se seria a solução, mas alguma atitude precisa ser tomada e essa é a minha sugestão. O Santa Cruz ficaria ausente por um ano para que uma completa reestruturação fosse realizada. Uma equipe da grandeza do Santa Cruz tem urgência por resultados e isso impede que o novo presidente equacione as dívidas, pois tem que destinar a maior parte do orçamento para a montagem do time. É preciso parar e repensar a forma de condução do clube”, disse Santana, que foi artilheiro do Campeonato Pernambucano em três oportunidades, 1969/70/72. Nos três anos, Fernando marcou 53 gols, sendo 23 na primeira temporada e 15 nas outras duas.
Ficar um ano parado, segundo ele, não seria uma humilhação para a torcida do Santa Cruz. “Hoje isso já acontece. O torcedor comparece ao estádio porque é apaixonado, mas o clube não vem apresentando bons resultados há muito tempo. E vergonha é pedir socorro à Federação Pernambucana de Futebol, com a cuia na mão, porque não tem dinheiro para restituir os jogadores”, complementou Santana. Na semana passada, o presidente Edson Nogueira, Edinho, admitiu que não tinha R$ 23 mil em caixa para liberar os atletas para seus estados de origem.
Por sua vez, Luciano Veloso não chega a esse extremo de afirmar que o clube precisa parar suas atividades por um ano, mas também prega uma ampla reviravolta no clube. “Precisam urgentemente recuperar a instituição Santa Cruz, pois tudo está decadente. É uma situação que deixa nós, ex-atletas, muito tristes. Ficaram (dirigentes) um querendo mostrar que era mais tricolor do que o outro e levaram o clube a esse caos. Pobre da torcida, que chegou a roubar tijolos dos armazéns para ajudar na reforma do Arruda, nos anos 70. Mas agora é deixar as lágrimas de lado e trabalhar”, enfatizou Veloso, 59 anos, que hoje atua empresariando jogadores. Luciano Veloso fez 409 jogos com a camisa tricolor, entre 1966 e 75, e marcou 174 gols.
Preocupado em não deixar a história do clube morrer, o Blog do Santinha vai começar a publicar artigos de momentos gloriosos vividos pelo clube. “O torcedor, sobretudo o mais jovem, precisa saber quem foi um Ramon, artilheiro do Brasileiro de 1973 com 21 gols”, lembra Anízio Silva, designer da página virtual.
Meninos chamam a responsabilidade no adeus
No último jogo do Santa Cruz na Série C, coube aos jogadores da casa defender as cores do tricolor
Marcelo Sá Barreto
mhenrique@jc.com.br
Enviado Especial
SALGUEIRO – No futebol, faz parte do jogo passar por adversários mesmo sem ter chances de prosseguir numa competição. E acionar garotos forjados em “casa” é um remédio para evitar a apatia do desclassificado. Esta foi a idéia do técnico Charles Muniz, no último encontro do Santa Cruz na Terceira Divisão, diante do Salgueiro. A cartada deu certo. Em vez de um elenco rancoroso ou amargurado, meninos cheios de vitalidade passaram um dia leve, na cidade onde ocorreu o confronto, sábado passado.
Pela manhã, como um grupo sem problemas, os jogadores tomaram o café da manhã e retornaram, logo após, aos seus quartos, antes de ouvir a palavra do professor, marcada para as 11h40. Mas, o que dizer num momento ruim? Charles encontrou o caminho. Antes da reunião, a conversa informal. Contador de histórias, o técnico dava cores a lances de sua vida, passados em outros Estados. O riso discreto tomava conta dos rostos tricolores. De portas fechadas, sem a interferência da imprensa, o recado: “Cada um tem de fazer o melhor, independentemente de vitória. Para chegar em casa e poder olhar com dignidade para a família”, disse.
O glamour, com a desclassificação, esvaiu-se por completo. Não espere torcedores olhando curiosos do lado de fora do restaurante, onde almoçou, ao meio-dia, o elenco. O preço por não estar no ápice é esse: o esquecimento quase total. Um ou outro simpatizante chegou junto para o tradicional “tapinha nas costas”. Nada mais que isso.
A saída para ao último jogo do ano para o Santa Cruz – e para alguns jogadores – aconteceu sem atropelos, às 14h40. A chegada ao Estádio Cornélio de Barros, com direito a escolta policial, idem. Para quebrar o marasmo, um torcedor avisou: “Sou alvirrubro”, disse. “Mas meu coração está com vocês. Vamos lá ganhar. Santa Cruz é tradição”, gritou.
Os últimos toques de Charles foram repassados às 15h30. Sem pressão, pelo menos era o que aparentavam, os meninos entraram em campo. Queriam honrar a camisa coral. A vitória seria o ideal, até para aliviar a tristeza. Ela não veio – por falta de melhor técnica. Raça, vontade e determinação existiram. Até parecia que os tricolores respiravam na competição.
Na volta, em meio à multidão que comemorava a classificação à terceira fase do Carcará, e não estava nem aí para o regresso tricolor, uma certa alegria no ar. Jefferson fez gol, Wagner Rosa também. Nem tudo estava perdido. Ainda de uniforme, entrando no hotel, onde se trocariam para partir para o Recife, por volta das 20h, a certeza de que se os erros não tivessem sido tantos e em doses cavalares, a situação poderia ser bem diferente.
Sinal verde para Bezerra Coelho
O secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco e presidente do Complexo Industrial de Suape, Fernando Bezerra Coelho, recebeu o sinal positivo do governador Eduardo Campos para ser candidato à presidência do Santa Cruz. A reunião foi no sábado. Mas a candidatura vai depender de um entendimento entre todas as lideranças do clube e dos grupos envolvidos nas eleições.
“A minha disposição de ser candidato à presidência do Santa Cruz continua. Mas vai depender de um consenso, do apoio de todos no clube. O governador sinalizou de forma positiva. Portanto, tenho que conversar com as lideranças do Santa Cruz”, explicou o secretário.
Para chegar ao consenso, Fernando Bezerra Coelho adiantou que haverá uma reunião no final da tarde de hoje. No entanto, o secretário não sabe ainda o local e se será com todos os grupos envolvidos na sucessão de Édson Nogueira. “Vamos tentar uma reunião conjunta. Não se for possível, irei me reunir separadamente com cada grupo. Mas só vou entrar com a minha candidatura se houver união.”
Um dos pontos fundamentais para o secretário Fernando Bezerra Coelho confirmar a sua candidatura é ter uma relatório completo da situação do Santa Cruz, como a questão do patrimônio, financeira, jurídica e outros aspectos que envolve a atual crise do clube. “Tenho que saber tudo, em que terreno vamos pisar para podermos fazer um projeto, um planejamento para o clube.”
As eleições do Santa Cruz, que seriam em dezembro, foram antecipadas para o dia 30 deste mês pelo Conselho Deliberativo. As inscrições das chapas irão até o dia 22. O grupo de Fernando Veloso e Fred Arruda confirmou o apoio a Fernando Bezerra Coelho. O ex-presidente Romero Jatobá, Romerito, também aprova o nome do secretário, mas colocou que antes é preciso conversar, pois o seu candidato é Antônio Luiz Neto.
“O nome de Fernando Bezerra Coelho é uma unanimidade. Mas ainda não nos reunimos. A meu candidato é Antônio Luiz Neto. Mas podemos chegar a um consenso e passar a apoiar o nome de Fernando”, disse Romerito, ontem à noite, por telefone ao Jornal do Commercio.
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