Último adversário do Santa Cruz na primeira fase, o Potiguar chega com um dos menores investimentos e sendo o azarão do grupo 5
José Gustavo
Da equipe do Diario
Futebol é um jogo. E como todo jogo tem sua parcela de sorte. Nem sempre vence o melhor ou o mais bem estruturado. Apesar da parcela de chance de um azarão conseguir ir de encontro a todas as lógicas são mínimas. O Potiguar se encaixa neste contexto. Último adversário do Santa Cruz no grupo 5 - enfrenta a equipe coral penas na terceira rodada -, o representante da rica Mossoró (RN) chega para a disputa da Série C como um verdadeiro franco-atirador. Um time que não tem nada a perder, melhor formulando, tem muito a ganhar.
Terceira força do Rio Grande do Norte, atual vice-campeão estadual - perdeu as finais para o ABC -, esperava-se um pouco mais do Príncipe, que é o mascote do clube. Até porque o seu arqui-rival, o Baraúnas, não passou nem perto de se classificar para a Série C. O mutirão em prol do alvirrubro na cidade não está existindo. Ruim para Mossoró, pior para o Potiguar.
Um clube que há quatro anos (2004) levantou, pela primeira vez na história, um título estadual. Um clube que, praticamente, não tem sede - a pequena casa no centro da cidade está desativada -, mas com muito esforço conseguiu adquirir uma ampla casa que vem servindo de concentração e alojamento para os atletas. Foi neste novo endereço que o Diario acabou sendo recebido pelo assessor de imprensa, Fábio Oliveira. Pois é. Ninguém acreditava que o Potiguar teria uma assessoria de imprensa. Foi nesta conversa, no terraço, que sentimos o esforço deles para diminuir os extremos e as contradições do clube.
Dono de uma torcida apaixonadíssima, o Potiguar sobrevive com a ajuda efetiva de alguns abnegados. A prefeitura municipal também ajuda com um montante que gira em torno de R$ 130 mil, mas dividido em seis cotas. Uma quantia irrisória levando-se em conta que a folha mensal dos jogadores chega aos R$ 70 mil (médias salarial de R$ 2,5 mil). Por sinal, de longe, a folha mais baixa dos quatro clubes do grupo 5.
"Estamos negociando alguns patrocínios suprir o déficit que temos na folha do elenco", disse Fábio Oliveira, antes de completar: "Além de subsidiar os gastos com deslocamento, alimentação e hospedagem do grupo nos jogos fora da cidade".
Mas, como diz a máxima, "quem trabalha, Deus ajuda". Por isso, a confiança é grande e cresce junto com a estrutura física do clube. A pequena sede do centro da cidade, onde tem um dos metros quadrados mais valorizados, será vendida para a compra de um terreno e construção de um Centro de Treinamento. Ousadia e criatividade são alguns lemas deles. Um bom exemplo foi a parceria com a prefeitura da cidade de Antônio Martins (a 140 km de Mossoró). Lá o clube realizou uma inter-temporada como preparação final da Série C. Portanto, vontade não faltará ao "azarão" Potiguar para tentar bater sua marca histórica: 9º colocado na Série C de 1999.
Ficha técnica
Associação Cultural e Desportiva Potiguar
Cidade: Mossoró - RN (a 463 km do Recife)
Fundação: 11 de fevereiro de 1945
Presidente: Stênio Max
Endereço: Rua Manoel Hemetério, 15 - Mossoró/RN.
Cores: Vermelho e branco
Mascote: Principe
Estádio: Leonardo Nogueira (Nogueirão)
Capacidade: 25 mil
Site Oficial: www.potiguardemossoro.com.br
Time Base: Toni; André Borges, Lúcio, Ricardo Braz e Everaldo; Adriano, Everton, Vasconcelos e Enoque; Canindezinho e Paulo Rangel.
Técnico: Miluir Macedo.
Nogueirão tem retoques finais
Uma parceria entre a Liga Desportiva de Mossoró e a prefeitura municipal deu uma nova roupagem ao estádio Leonardo Nogueira. Do lado de fora, a primeira impressão é a melhor possível. Com capacidade para 25 mil torcedores, a fachada externa do Nogueirão está toda reformada e o acesso às dependências internas também, principalmente, para autoridades, imprensa, equipes e quem adquire cadeiras cativas.
O campo de jogo, que mais importa para os atletas, apresenta um gramado bastante irregular, com piso duro, porém sem muitos buracos. Os pés de galinhas são facilmente encontrados, mas os funcionários do estádio confirmaram que até o início da Série C a situação do gramado estará bem melhor.
Quando o Diario visitou o Nogueirão, o primeiro corte na grama tinha iniciado. Era uma quinta-feira (19) e, no sábado (21), haveria um bingo no local. Por outro lado, os vestiários são bastantes amplos e, ambos, inclusive, com sala de massagem. As arquibancadas são um pouco elevadas, existe uma pista de areia que separa o gramado e o alambrado das arquibancadas afastando bastante o torcedor.
O oásis potiguar
Mossoró é uma espécie de oásis. A cidade fica estrategicamente colocada na metade do caminho entre Natal e Fortaleza. Encravada no Mesorregião do Oeste Potiguar. Impossível não se surpreender ao entrar nela. Não só pelas longas e amplas avenidas que levam ao centro, mas principalmente pela boa infra-estrutura que apresenta. Uma cidade rica. Mossoró é repleta de grandes concessionárias de veículos. Para se ter uma idéia, a frota de automóveis, incluindo, motocicletas, ultrapassou a marca dos 77 mil veículos. Número alto para um município com população estimada em cerca de 240 mil habitantes. Incrível média de um veículo a cada três pessoas.
Mas não é para menos. Mossoró é o maior produtor de petróleo, em terra, do Brasil. E mais ainda, também tem a maior marca em produção de sal marinho do país, abastecendo 95% do mercado nacional. Além do comércio forte, a indústria também vem crescendo a passos largos assim como o mercado da construção civil. A cidade conta com um dos maiores shoppings do Rio Grande do Norte, o West Shopping, com cerca de 140 lojas. O setor agrícola também tem destaque com a exportação de melão.
Dificuldade é o que não falta
Problemas não faltam ao técnico Miluir Macedo para fechar o grupo do Potiguar ainda nesta reta final de preparação. Com um número de jogadores reduzido, contando com alguns das divisões de base, o treinador vai fazendo das tripas coração para achar o seu melhor time. Para se ter uma idéia 90% da equipe que foi vice-campeã potiguar não permaneceu para a Série C.
Destaques ficam por conta dos atacantes Canindezinho e Paulo Rangel, artilheiro da Copa RN (1º turno do estadual). O goleiro Mondragon, ex-Sete de Setembro, também está bem no clube, mas no início da semana acabou se hospitalizando por conta de uma infecção intestinal.
O problema mesmo aconteceu com o atacante Ribinha, que foi contratado no início da semana, dormiu uma noite em Mossoró e, pela manhã, sumiu sem dar satisfação. A diretoria do Potiguar contratou 15 jogadores e, até o início da terceira divisão, deve fechar com, no mínimo, mais três reforços. Os últimos contratados foram: Haroldo (volante, ex-Vasco da Gama) e Diogo (meia, ex-Central).
O sonho de Canindezinho
O sonho de se tornar jogador de futebol profissional chegou quando ele não mais acreditava ser possível. Apenas aos 23 anos, Francisco Canindé Alves da Costa, viu a oportunidade bater em sua porta. "Fui direto do ´rachão` ao profissional", confessou. Sem um mínimo trabalho de base, sem nenhum fundamento técnico, Canindezinho, como já era conhecido nas peladas da cidade de Pau dos Ferros (a 151 km de Mossoró), deixou de ser peladeiro para trilhar uma vitoriosa carreira profissional. "Sim, é isso mesmo. Sou um vitorioso", disse cheio de orgulho no auge dos seus 35 anos.
Do interior do Rio Grande do Norte ele alçou bons vôos. Passou pelo Souza-PB e América-RN até começar a melhor fase de sua carreira. Foi jogar no Ituano-SP e seguiu sua estrada até o sul do país. Atuou no Juventude-RS, Tubarão-SC e Santa Cruz do Sul-RS, quando voltou para o Nordeste para defender o Treze-PB e, finalmente, o Potiguar. "Eu só fazia estudar. Tudo aconteceu depois que eu terminei o segundo grau".
De fala mansa, pausada e entre uma brincadeira e outra dos companheiros, o veterano atacante do Potiguar - já somou sete anos entre idas e vindas no alvirrubro -, mostra ser muito querido por todos no elenco. Jogador de velocidade e bom chute, Canindezinho é um dos artilheiros do time e, também, um dos poucos remanescentes da equipe vice-campeã potiguar.
Enquanto amarrava a chuteira, pouco antes de iniciar o treinamento matinal na última semana de preparação, o jogador deu a receita para sua equipe deixar de ser o azarão da Série C: A simplicidade. "Aqui a união é uma coisa impressionante. Todos os jogadores se respeitam, não existe vaidade e o objetivo é um só: vencer". Que assim seja. Receita de uma equipe que tem como apelido "Time Macho".
segunda-feira, 30 de junho de 2008
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