sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Tricolor parou no tempo
Marcelo Cavalcante
mcavalcante@jc.com.br
João de Andrade Neto
jneto@jc.com.br
Poucos clubes têm a palavra futebol em seu nome. E pouquíssimos levaram tão ao pé da letra essa nomenclatura quanto o Santa Cruz. Levando em conta os últimos 21 anos da história do clube, o futebol é encarado como única fonte de renda. O termômetro de uma gestão. Nesse mesmo período foram apenas quatro títulos estaduais. A conquista de uma taça, por sinal, é o suficiente para qualquer dirigente encher o peito de orgulho como se fosse algo de outro mundo. Mas foram raras as vezes em que um presidente conseguiu dar continuidade à gestão administrativa do seu antecessor. Todas, aliás, marcadas por empréstimos bancários e pessoais, que culminaram em uma dívida total acumulada de cerca de R$ 60 milhões.
“Na hora em que se assume a presidência do clube e diz-se que o time precisa ser campeão, ele deixa de planejar. Vai agir com a emoção e não com a razão. Ele pode até conseguir o título, mas é algo sazonal. Por isso, o clube precisa ser planejado”, diz Alexandre Mirinda, que presidiu o Santa Cruz no biênio 93/94. Nesse período, o Santa conquistou o título estadual de 93.
Mirinda veste a carapuça. Para ele, todos os presidentes do clube nas duas últimas décadas cometeram erros administrativos que culminaram na crise que o Santa está vivendo. Em 1987, quando houve um enxugamento do Campeonato Brasileiro com a criação da Copa União, o tricolor presidido por José Neves Filho mostrou poder político para ser um dos três convidados do Clube dos 13 para disputar a competição.
No entanto, Zé Neves tropeçou nas próprias pernas e, a partir daí, o clube acumulou dívidas como nunca antes. Em 1988, o Santa foi um dos quatro primeiros rebaixados da história do Brasileirão – ao lado de Bangu, América-RJ e Criciúma. Era o primeiro dos quatro rebaixamentos que se seguiriam nos anos posteriores. Da A para a B em 2001 e 2006, da B para a C em 2007 e eliminação da C – só se fizer um bom Pernambucano 2009 disputará a D. Vale lembrar que nos anos em que não houve rebaixamento, em 1987 e em 2000, os corais também terminaram entre os últimos.
Mesmo assim, Zé Neves discorda de quem pensa que a atual situação do Santa é fruto do acúmulo de erros de gestões anteriores. Ele defende a tese de que o clube depende exclusivamente da renda do futebol para sobreviver. “No Brasil, principalmente no Nordeste, a renda é a principal receita.”
Seu sucessor, Romerito Jatobá, tinha filosofia semelhante, em que o futebol é a mola mestre do clube. “Deu tão certo que o clube conquistou o título Estadual de 2005 e voltou à Série A”, recorda Romerito.
Mas as conquistas do time em campo não se transformaram em alicerces administrativos sólidos. Em 2006, na busca desesperada para evitar o rebaixamento à Série B, Romerito antecipou as cotas de patrocínio e de televisionamento. O rebaixamento veio e o clube endividou-se, com atrasos de salários de jogadores e funcionários e um crescimento nas causas trabalhistas.
Mesmo assim, Romerito acredita que a salvação do Santa está apenas no futebol. “Só para abrir o clube, é preciso ter em caixa, no mínimo, R$ 2 mil por dia. É muito complicado vender uma cota de patrocínio, um prisma publicitário. Por isso, é preciso centrar forças no futebol”, diz.
Nesses últimos 21 anos, raros foram os momentos em que os dirigentes procuraram fontes alternativas de renda. Na gestão de Luís Arnaldo Pessoa de Melo (95/96), o Santa conseguiu algo que parecia ser um divisor de águas. O clube, por meio de influência política, fechou parceria com a multinacional Parmalat, que injetou dinheiro no Arruda. Mas o máximo que conseguiu foi ser campeão estadual em 95. Além disso, adquiriu um terreno em Beberibe, que seria utilizado como um Centro de Treinamento e, hoje, está abandonado.
Em 99, Jonas Alvarenga causou uma revolução ao aumentar o quadro social dos parcos 464 sócios em dia para inéditos 27 mil. “Criamos a categoria sócio-cooperador-fiel, no qual o torcedor pagava uma mensalidade de R$ 5. Nesse caso, havia promoções especiais de ingressos dos jogos. Havia também a opção da mensalidade de R$ 10, que dava direito à assistência médica”, lembra. Com o passar das gestões, nenhuma dessas idéias ganhou prosseguimento. Hoje são cerca de 3,1 mil sócios em dia. Uma pequeníssima fonte de receita.
Tratamento drástico para salvar o clube
Tratar de um paciente com câncer apenas usando xarope. Esta é a analogia feita pelo publicitário José Nivaldo Júnior ao avaliar as medidas utilizadas ao longo dos anos para tentar sanar a crise do Santa Cruz. Polêmico e defensor da idéia de que o Recife não comporta três grandes clubes de futebol, José Nivaldo sugere medidas radicais para o renascimento tricolor. Entre elas, o fechamento da sede social e do estádio do Arruda e o arrendamento de toda a administração do futebol coral para uma empresa.
De acordo com o publicitário, torcedor declarado do Santa, o clube precisa urgentemente se desfazer de parte do seu ocioso patrimônio. Por dia, são necessários cerca de R$ 1.150 apenas para abrir o clube, devido a gastos com óleo para o gerador que produz a energia utilizada, alimentação de atletas, material de limpeza, passagem dos funcionários, entre outros.
“Tudo isso é muito oneroso para o clube, que não possui qualquer recurso. É preciso arrumar uma empresa interessada em investir no local para tirar o custo da manutenção das costas do clube. Se for o caso, comprar o terreno. Até lá, a sede e o Arruda permaneceriam fechados. A administração do Santa precisa se transferir para uma sala, de preferência na Federação Pernambucana de Futebol, para não precisar nem pagar o aluguel”, sugere José Nivaldo.
A idéia de cancelar a atividade do Santa se estende a todas as modalidades esportivas, entre elas, o futebol. “Não adianta tentar manter um time sem condições. A solução seria arrendar o departamento de futebol a uma empresa, que seria responsável por contratar e pagar os salários de todos os jogadores e comissão técnica. O Santa entraria apenas com a marca e os padrões. Até essa parceria não ser fechada, o ideal seria ficar fora das competições”, completa.
“Estou cansado de discurso colocando panos mornos. Ou se toma uma atitude drástica ou o clube fechará definitivamente as portas em pouco tempo. Se essas medidas tivessem sido tomadas há alguns anos, a situação hoje seria outra. Com o time na Série D, tudo fica mais difícil.”
No entanto, as idéias de José Nivaldo Júnior não são bem aceitas pela atual cúpula coral. “Não concordo com fechar a sede e a parte social. O clube perde a identidade. Isso não se aplica a nenhum time grande. Já a questão de privatizar o futebol pode ser viável, desde que a empresa faça um estudo e tenha muito dinheiro para investir”, analisou o superintendente do Santa, Luís Cláudio, homem de confiança do atual presidente Edinho.
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